Nestes dias de calor infernal de Porto Alegre, se puder, ache um canto fresquinho com seu computador e internet e passe umas horas conhecendo o ChatGPT, porque vale a pena. Me diverti horrores fazendo isso.
Para quem ainda não ouviu falar, ele vem sendo alardeado como o apocalipse dos modelos de avaliação estudantil, gerando pânico em professores de diversas áreas e níveis. Explico: o ChatGPT é chat bot – um sistema de inteligência artificial especializado em conversação com humanos. Esses programas de computação aprendem rapidamente, analisando incontáveis textos, em todas as línguas, e simulam os diferentes estilos de expressão de linguagem humana. Eles podem escrever textos em qualquer estilo, responder perguntas e interagir com as pessoas, de forma a mantê-las engajadas.
O ChatGPT é um de muitos outros sistemas, como o BERT, RoBERTa, ou GPT3 – cada um deles no seu nicho: um mais focado em análise de sentimentos, outro, em tradução, geração de textos etc. Mas o legal não é eu explicar, é você usar. Um amigo meu foi convidado a dar uma palestra sobre o ChatGPT, então ele pediu ao CHATGPT que... gerasse uma palestra sobre o ChatGPT. Com exemplos engraçados. Claro que, no fim, ele usou a palestra humana, mas é legal comparar.
Vendo o exemplo dele, pedi para o sistema gerar uma coluna de jornal sobre o ChatGPT. Fiquei pensando: será que ele passa pelas mesmas dúvidas que eu, se debate sobre estilo, procura exemplos? Para de vez em quando e vai tomar um cafezinho? Mas não, ele rapidamente gerou um texto bem claro e simples, tipo uma redação de vestibular, estruturado. Bem bom, na minha opinião. Mas daí eu pedi: acrescenta exemplos interessantes e compara com filmes de ficção científica. Isso certamente pareceu mais desafiador, dadas as pausas; e só usou dois filmes, Ela e Ex-Machina. Interessante, pensei, dois exemplos de máquinas femininas. Talvez ele achasse que isso me deixaria mais confortável...
Pedi então que gerasse uma piada sobre o ChatGPT, o Darth Vader e o Terminator entrando num bar. Ele demorou bem mais, mas conseguiu me fazer rir. Perguntei o que ele beberia se entrasse em um bar, e ele falou que só um suco de fruta, porque ele é uma rede neural de processamento de linguagem, e, portanto, não deveria consumir álcool – muito sensato, pensei.
Escolas e universidades jamais devem se sentir ameaçadas – esta é uma ferramenta fantástica para ensinar. Esqueçam a ideia de pedir aos alunos para simplesmente escrever um texto – ao invés disso, digam a eles que peçam textos ao ChatGPT e os desafiem a fazer algo melhor! Na semana que passou, a Nature publicou um artigo em que outro modelo de linguagem, batizado de ProGen, interpretasse a língua da natureza. O código genético gera as proteínas que constituem nosso corpo e tudo o que nos cerca. Modelos de linguagem aprendem e fazem algo melhor. Desafiaram o ProGen a criar proteínas, melhores que as existentes. Será que conseguiram? Será que ChatGPT sabe?