O ChatGPT, uma nova tecnologia de inteligência artificial (IA) que ganhou destaque nas últimas semanas, é uma ferramenta capaz de elaborar textos e imagens em poucos segundos por qualquer pessoa, de forma gratuita. A facilidade na criação de conteúdos tem preocupado escolas e universidades. Em algumas instituições de ensino dos Estados Unidos e Europa, o acesso ao site chegou a ser bloqueado devido ao temor de estudantes copiarem o material produzido pela inteligência artificial para utilizá-lo em provas ou trabalhos.
Especialistas ouvidos por GZH contrapõem a ideia de proibir o uso em sala de aula: é preciso usá-la de forma correta, como uma ferramenta do processo educacional. O temor de escolas ocorre pelo modo como a plataforma funciona. Um usuário do ChatGPT, pode pedir resposta para as mais variadas questões.
Se uma pessoa, por exemplo, questionar ao robô por que o céu é azul, recebe uma resposta como: “A luz do sol é composta de diferentes cores, e o ar dispersa essas cores diferentes, permitindo que apenas o azul se reflita de volta para nós.” Se a pergunta é repetida, uma versão diferente é recebiba pelo: “O céu é azul porque a luz do Sol é absorvida pelo ar e, quando ela é refletida de volta, as partes vermelhas e alaranjadas são absorvidas mais facilmente do que o azul. Assim, somente o azul é refletido para nós, dando a cor característica azul-claro”.
O ChatGPT também tem outras ferramentas: tradução de idiomas, gerador de nome de produto, criação de imagens (é possível pedir para que o aplicativo crie uma imagem de um astronauta em cima de um cavalo, por exemplo).
A tecnologia é capaz de elencar pontos mais importantes para o estudo de um determinado assunto, escrever textos sobre um tópico em formato de redação ou mesmo um poema inspirado no estilo de algum autor conhecido. Esses são alguns dos exemplos de aplicações que podem ser feitas por qualquer pessoa que dedique alguns minutos para compreender o funcionamento do site, inclusive estudantes.
O que dizem especialistas sobre o ChatGPT
Eduardo Müller, coordenador do curso de Jogos Digitais da Universidade Feevale, diz que a integração inteligência artificial e sala de aula não pode ser desfeita: isso já tem ocorrido com as ferramentas disponíveis hoje, que são similares ao ChatGPT, como é exemplo do próprio Google.
— Temos que aceitar que é a realidade e entender que isso vai mudar completamente os parâmetros criativos, para fazer um texto, uma imagem, qualquer coisa — resume.
O professor cita um episódio que envolveu o uso de inteligência artificial na elaboração de um trabalho. Um de seus alunos apresentou o material para avaliação de uma disciplina, mas, por conhecer o estudante, desconfiou da autoria.
Na impossibilidade de provar o uso da inteligência artificial, Müller mudou a estratégia: pediu para o estudante explicar o processo que levou ao resultado do trabalho. O aluno, por fim, admitiu ter usado inteligência artificial na tarefa. Portanto, no lugar de entender a tecnologia como uma inimiga, o professor diz optar por tratá-la como um aliado do processo criativo.
— Proibir seria mais fácil, mas isso não adianta: o aluno usaria, faria de uma forma que eu não enxergasse. Não vou proibir meu aluno de usar uma IA se ele utilizá-la como uma ferramenta, algo que construa alternativas, faça enxergar mais longe, encontrar soluções e referências que ele não encontraria tão fácil na internet — opina.
Por isso, ao professor, será cada vez mais indispensável conhecer o aluno: como ele escreve, pensa, se desenvolve nas atividades da disciplina, acrescenta o docente da Feevale:
— É fácil perceber que o texto é de inteligência artificial se o professor conhecer o aluno. Por isso, é importante avaliar o processo, o esforço, e não os resultados.
Elena Maria Mallmann, professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pesquisa sobre tecnologias na educação. Ela se posiciona contrária à restrição no acesso ao ChatGPT feita nas escolas dos Estados Unidos e Europa: diz entender que afastar alunos de meios que podem contribuir com o ensino é contraditório ao momento observado no mundo.
— Estamos vivendo tempos em que os currículos e as políticas públicas educacionais incentivam a formação para o pensamento computacional, a robótica educacional. Portanto, proibir qualquer ferramenta está na contramão de uma educação e acesso ao conhecimento como direito universal de todos — pontua.
Como funciona o ChatGPT?
As respostas do ChatGPT são captadas de banco de dados próprio, compiladas e entregues ao usuário. OpenAI, empresa que desenvolveu a tecnologia, adverte que o software "ocasionalmente gerar informações incorretas ou enganosas" por conta de o histórico de dados da plataforma estar limitado a 2021. Somado a isso, não é indicada a fonte da informação e é difícil detectar se é ou não uma cópia caso o conteúdo seja utilizado por um aluno em um trabalho na escola ou universidade.
Ainda que possa ser aplicado para esse fim, segundo a professora da UFSM, a existência da tecnologia não deve motivar a escola e os responsáveis à adoção de mecanismos de vigilância, como os softwares de identificação de plágio, por exemplo:
— Ao invés disso, (é necessário) preocupar-se com uma educação voltada para a cultura digital enquanto formação cidadã, de acordo com os princípios da liberdade e da democracia para que a criatividade seja a base do desenvolvimento de soluções e não a cópia delas.
Para Eduardo Pellanda, professor e pesquisador da Escola de Comunicação, Artes e Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o debate da proibição do ChatGTP é limitado por não considerar os benefícios que a tecnologia pode contribuir no aprendizado do aluno:
— Há várias questões interessantes de IA nas escolas e universidades, com possibilidade de novas perguntas, entender se as respostas têm sentido, colocar elementos e discussões. Há tantos usos diferentes, que são estimulantes para a intelectualidade, do que simplesmente uma discussão de plágio, cópia.
E como, na prática, alunos e professores poderiam utilizar o ChatGTP? Pellanda diz que o conteúdo de sala de aula pode receber apoio da capacidade de agregar dados da plataforma, algo que um docente, por melhor profissional que seja, é incapaz de fazer frente ao poder computacional do meio digital.
— Em uma aula sobre um fato específico, podemos perguntar (ao site) se existiram outros parecidos na História. A ferramenta tem um banco de dados enorme e uma relação interessante entre fatos e conexões semânticas, que podem ajudar a expandir conteúdos que não são óbvios em sala de aula — exemplifica Pellanda.
Passo a passo para conversar com o ChatGPT
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