Cresci ouvindo que sem chuva não existe PIB no RS. Na Califórnia, onde trabalho de vez em quando, nunca chove — é a terra do carro conversível por uma razão. Também é o Estado com a maior economia dos EUA e a quarta maior economia do planeta, quase US$ 4 trilhões anuais, e com duas das maiores indústrias do mundo. Fora a saúde, o vinho, as frutas — todos sinônimo de excelência, e de tecnologia.
Por que, até hoje, dependemos de chuva para o crescimento do nosso Estado? Quando foi que aceitamos desistir de expandir nossa economia? Quem decidiu que nosso caminho seria encolher um pouco a cada ano? Como e por que o RS se resignou a um papel cada vez menor, e desistiu de investir em ciência e tecnologia?
Em 1944, Franklin Roosevelt, talvez o maior estadista que já viveu, saía vencedor de uma guerra mundial em que cientistas de diferentes universidades haviam trabalhado em segredo para desenvolver e aperfeiçoar radares e, claro, explosivos. Roosevelt poderia ter simplesmente atribuído suas vitórias à sorte e/ou estratégia militar. Ao invés disso, enviou uma carta histórica ao seu secretário de ciência.
Na pandemia, aprendemos na carne a falta que faz tecnologia em todos os níveis.
Ali ele reconheceu o trabalho dos cientistas na guerra e pediu que: 1) isso fosse divulgado ao público; 2) fosse criado um programa que use a ciência para o benefício das pessoas, especialmente a saúde; 3) fosse indicado como o governo poderia contribuir para incentivar parcerias públicas e privadas para o desenvolvimento de pesquisa; 4) fosse criado um programa de descobrir e desenvolver talentos e lideranças na área científica, assegurando a perpetuação das contribuições científicas para a sociedade.
Cinco anos depois, era criada a NSF (National Foundation of Science) e criado o modelo de financiamento à pesquisa. O incentivo a talentos e tecnologia colocou os EUA na posição de liderança. O Brasil também tentou isso — em 1951, foi criado o CNPq. Mas não foram dadas as mesmas garantias, faltou regar e adubar o que havia sido plantado. A carreira científica nunca foi instituída no país, e até hoje falhamos em estimular e detectar esses talentos.
Especialmente no RS, tudo conspira contra querer ser cientista e, principalmente, tentar estabelecer grupos de pesquisa ou empresas de tecnologia. Temos um dos menores orçamentos do país nessa área, deixamos escoar esses jovens. O governo federal recentemente ensaiou um gesto, aumentando valores e números de bolsas. Até isso continua pouco profissional. Nos EUA, um doutorando tem plano de saúde, e os pós-doutorados — profissionais altamente especializados — tem até aposentadoria.
Na pandemia, aprendemos na carne a falta que faz tecnologia em todos os níveis. O que falta no RS para que lideranças entendam que esse é o caminho para sair do marasmo pré-histórico de esperar pela chuva? Enquanto o futuro se resumir a olhar para as nuvens, nosso Estado vai ser grande apenas no nome.