George W. Bush foi presidente durante dois dos maiores desastres já enfrentados na história dos EUA: os ataques do 11 de Setembro, em 2001, e o furacão Katrina, em 2005. Em nenhum dos casos tomou atitudes brilhantes, dado seu despreparo e o de seu governo. Mas pensou: o que mais pode acontecer?
Membros de seu gabinete lhe sugeriram a leitura do livro do historiador John Barry publicado em 2004 sobre a pandemia de influenza em 1918. O vírus infectou mais de um quarto da população americana e matou entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas no mundo — quase 700 mil nos EUA. Impressionado, Bush formou uma força-tarefa, cuja missão era estudar pandemias anteriores e criar um plano para o país do que fazer se outra acontecesse. Esses estudos duraram anos. Quando o time do novo presidente Obama substituiu o anterior na Casa Branca, em 2008, membros desse grupo foram mantidos e continuaram a assessorar a presidência, inclusive na pandemia de H1N1 em 2009.
A força-tarefa, após análise histórica e estudos de modelagem matemática, tirou duas conclusões principais. A primeira era a de que, se surgisse um novo vírus, enquanto não houvesse uma vacina a maneira mais efetiva de salvar vidas era a de reduzir interações sociais _ principalmente as de crianças. Havia algo particular no comportamento infantil que intensificava o contato, tanto entre crianças como entre elas e adultos, e maximizava a transmissão. Fechamento de fronteiras teria pouca ou nenhuma eficácia. Testes e rastreamento de contatos nos bolsões de transmissão identificados eram imperativos — sem eles, a eficácia do isolamento era reduzida.
A segunda conclusão era a de a eficácia dessas medidas ser diretamente proporcional à rapidez com que fosse implementada, após a identificação de casos. As infecções virais se propagam exponencialmente — algo que não é óbvio para o pensamento humano. Se um centavo for dobrado todos os dias, em trinta dias o resultado é de milhões. Parece impossível, mas assim se espalham os vírus. Cada dia na demora para implementar as medidas nos aproximava de um ponto em que elas não são mais eficazes — e chegaria o ponto inevitável de lockdown, em que hospitais e necrotérios teriam suas capacidades esgotadas, e as cadeias de fornecimento — e a economia — seriam paralisadas.
Essa história — bem como a de como e por que tal plano nunca foi seguido em 2020 — é contada no livro The Premonition, por Michael Lewis. Os diferentes estudos que se seguiram, incorporando os dados da pandemia do SARS-CoV-2 nesse modelo, só reforçaram essas conclusões. A tendência é clara: quanto mais cedo governos e lideranças implantam as medidas de controle, mais rapidamente a transmissão é controlada, até que as vacinas estejam disponíveis. Foi o que se observou em países como a Nova Zelândia, que agiu rapidamente; e o contrário do visto no Brasil e nos Estados Unidos. Usar a ciência para evitar chegar a lockdown é administrar com eficácia. Culpar o lockdown pela economia só funciona para alguém que sistematicamente se recusa a aprender com a história.