Quando a covid-19 surgiu, no início de 2020, a maioria de nós acreditou tratar-se de uma doença respiratória – como as causadas por outros coronavírus conhecidos, ligados à sars, à mers ou aos resfriados. A maioria dos médicos focava em manter os pacientes respirando, tratando o dano aos pulmões ou ao sistema circulatório. O padrão que ninguém esperava e que emergiu nas alas de pacientes da doença, hoje sabemos, foram sintomas neurológicos.
A perda de olfato e do paladar são já características, mesmo em indivíduos com sintomas leves. O Sars-CoV-2 afeta diretamente a inervação associada a esses sentidos e parece usar esse caminho para atingir o sistema nervoso central. Nos indivíduos internados, os sintomas neurológicos são os mais comuns, disparado: podem atingir até 50% dos indivíduos com covid-19, mostrou um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Um estudo inglês, da University College London (UCL), revelou que indivíduos com casos graves sem quase nenhum problema respiratório têm encefalites, derrames, encefalomielite, além de ansiedade, depressão e, vejam vocês: delírios. Leões no hospital, macacos no quarto, paranoias de perseguição e traição são narrados por pacientes. Pessoas com distúrbios psiquiátricos, mesmo em tratamento, tiveram seus sintomas exacerbados ao contrair o vírus. Os dados iniciais são preocupantes, sobretudo porque muitos desses sintomas persistem. E porque não sabemos por quanto tempo podem permanecer. Essa era uma preocupação constante dos cientistas, pois muitos vírus deixam sequelas permanentes que evoluem para doenças graves. O mais famoso é o caso do HPV, associado ao desenvolvimento de câncer. A provável existência de complicações era mais um dos argumentos a reforçar a importância do distanciamento: quem sabe o que pode acontecer, a longo prazo, nas pessoas que se deixaram infectar?
Fico pensando se um dia, quando os atuais membros do governo engajados em desinformar a população e promover o caos forem devidamente julgados e processados por seus atos, vão usar isso como defesa. Sim, porque a esmagadora maioria deles contraiu covid, como era completamente previsto pelo comportamento avesso a todas as normas sanitárias. Ou se manterão a coerência anticientífica, alegando que a doença não faz nada: eles apenas agiram de acordo com a convicção de que seus umbigos (e os de seus patrocinadores) são mais importantes do que a vida da população que prometeram que protegeriam – aparentemente, apenas para fins eleitorais.
Aos delírios de negar a gravidade da doença e manter que ela tem tratamento precoce, somam-se os mais recentes: investir em vacinas, mas continuar avisando que são nocivas; e decidir retomar as aulas presencias nas universidades em meio ao pior – repito, o pior – momento da pandemia. A vacina contra esse tipo de atrocidade já começou nas urnas no mês passado, com resultados nos EUA e no Brasil. Esperamos ansiosamente pela cura.