1 — a la antiga
Pergunta — Renata L., de Brusque, vem perguntando, assim como quem não quer nada: "Fiquei com uma dúvida ao ler, numa de suas colunas, a expressão a la antiga sem acento. Afinal, professor, é com crase ou sem crase? Não deveria ser escrito como à la carte?".
Resposta — Cara Renata, não te ofenderás se eu lembrar que a crase é a união da preposição A com o artigo A, não é? Pois esse encontro não ocorre em a la antiga. Este A é a preposição, e o la é a forma desusada do nosso artigo definido A, que aparece em muitas expressões cujo sabor gaudério muito me agrada: a la moda, a la pucha, a las tantas, a la fresca, a la cria.
A expressão que dás como exemplo — à la carte — é francesa e segue, portanto, a ortografia do idioma de Montaigne. Aquele acento grave não indica, como no Português, a ocorrência de crase, mas simplesmente assinala, em qualquer circunstância, que o A é preposição.
2 — butim
Pergunta — Enrico V., de Morretes, Paraná, quer saber se existe ou não em Português uma palavra específica para "o produto de um roubo", como no Italiano. "Desconfio que seja botin, mas não encontrei o significado nos dicionários que consultei".
Resposta — Meu caro Enrico: a única palavra que temos para isso é mesmo butim (e não *botin), que significa, entre outras coisas, "aquilo que se tomou ao inimigo" ou "produto de roubo ou de pilhagem". Em muitos exércitos do passado havia soldados mercenários que lutavam simplesmente pelo butim, representado pelos despojos tomados aos vencidos. Os piratas, por exemplo, sempre brigavam na hora de dividir o butim, gerando aquele lugar-comum dos esqueletos enterrados junto com a arca do tesouro...
3 — dois cês-cedilha?
Pergunta — Hilária W., de Santa Cruz, quer saber se a palavra forçação está grafada corretamente, uma vez que acredita que essa seja a única palavra que utiliza duas vezes o Ç.
Resposta — Prezada Hilária: sempre que o sufixo -ção for adicionado a um verbo que termine em –çar, será inevitável a presença do duplo cê-cecilha. Por exemplo, alçar, alçação; atiçar, atiçação; coçar, coçação. Sei que não pediste, mas aproveito o clima para te apresentar vocábulos que usam o til duas vezes (isto é, têm dois tis): pãozão, alemãozão, coraçãozão, fogãozão e por aí vai a valsa. Em tempo: não estranhes o plural cês-cedilha; é assim mesmo, como mostram os dicionários.
4 — drogas ilícitas
Pergunta — Dr. Aderaldo, de Piracicaba, gostaria de saber se a frase "É proibido o uso de drogas ilícitas" pode ser considerada uma redundância.
Resposta — Caro doutor: não vejo onde estaria a redundância. Há drogas lícitas e ilícitas; o cartaz quer avisar que, naquele recinto, não será tolerado o uso de drogas ilícitas. Se proibido estivesse ligado a ilícitas, aí sim haveria redundância ("drogas ilícitas proibidas"). Aqui se trata, no entanto, de uma regra geral adotada naquele recinto. Da mesma forma, num ambiente menos "seleto," poderia haver o cartaz "É permitido o uso de drogas ilícitas", e isso não as tornaria lícitas.
5 — atenção com/para com o cliente
Pergunta — A leitora Otília V., de Governador Celso Ramos, SC, pergunta: "Professor, estamos produzindo um fôlder de divulgação e esbarramos numa dúvida: é "Atenção para com o cliente"ou "Atenção com o cliente"?
Resposta — Minha cara Otília: vejo essas expressões como duas coisas totalmente diferentes. Se eu recomendo a um funcionário "atenção para com o cliente", estou dizendo a ele que dê um bom atendimento ao cliente. Se eu, no entanto, digo "Atenção com o cliente", estou recomendando que ele fique atento, porque o cliente pode aprontar alguma. Na rua, recomenda-se atenção com (ou aos) punguistas (jamais dirias "atenção para com os punguistas", imagino). Espero ter esclarecido, e não complicado ainda mais.