Quando o jornalista britânico James Bartholomew cunhou a expressão "sinalização de virtude", em 2015, todo mundo entendeu na hora do que se tratava. Não é preciso puxar muito da memória para lembrar de alguma ocasião em que um conhecido (ou desconhecido) exagerou no esforço de parecer o mais altruísta, o mais justo, o mais honrado — ou, dependendo do caso, o mais indignado.
Nas redes sociais, onde tudo é vitrine, acontece o tempo todo. "Olhem pra mim, sou bacana, defendo as melhores causas", mas também "Olhem pra mim, sou sincerão e genuíno, digo as bobagens que todo mundo está pensando". O mercado das virtudes é eclético.
Em um artigo publicado na semana passada na New Yorker ("Seus valores morais são bons demais para serem verdadeiros?"), o jovem antropólogo Manvir Singh defende a tese de que a sinalização de virtude não é a exceção, mas a regra entre os humanos. Quando se trata de valores morais, diz ele, estamos sempre performando.
Eis o paradoxo: nos comportamos bem para ganhar algum tipo de recompensa (admiração, confiança, respeito) ao mesmo tempo em que desconfiamos de quem, como nós, parece sempre movido por segundas intenções.
O tipo de virtude que vamos sinalizar depende da plateia que estamos tentando agradar e não dos valores que consideramos sagrados. Eis o paradoxo: nos comportamos bem para ganhar algum tipo de recompensa (admiração, confiança, respeito) ao mesmo tempo em que desconfiamos de quem, como nós, parece sempre movido por segundas intenções.
Pensadores que aderem à chamada teoria do erro moral acreditam que nossos conceitos sobre certo ou errado não são baseados em fatos objetivos, que poderiam ser observados por um marciano que viesse nos visitar, mas consensos, localizados no tempo e no espaço, que funcionam como uma espécie de ilusão útil que nos ajuda a viver em sociedade. A ideia não é nova, assinala o autor do artigo, mas estaria ganhando corpo com pesquisas recentes em áreas como biologia, antropologia e psicologia. Para Manvir Singh, a ciência está ajudando a desfazer a ilusão de que somos seres capazes de agir movidos por convicções morais elevadas e não criaturas programadas para proteger os próprios interesses — por mais disfarçados de boas intenções que eles se apresentem: "O egoísmo permeia tudo, até o nosso desejo de não parecermos egoístas".
Tornar-se cético em relação às nossas motivações mais elevadas, garante o autor, não obriga ninguém a abandonar o teatro de virtudes em que vivemos. Se dependemos todos uns dos outros para quase tudo, agir como se movidos por empatia genuína, no final das contas, talvez seja mesmo nossa melhor chance de sobreviver.