Durante muito tempo, acreditei que bandas de rock eram mais ou menos como a dupla jeans e camiseta: um clássico que cada geração herdava e subvertia a seu modo, mas nunca descartava.
A ideia de que o rock se adaptaria às constantes mudanças de gosto, sensibilidade e tecnologia, sem perder a relevância e o apelo junto ao público mais jovem, era uma percepção distorcida, influenciada não apenas pelos meus gostos pessoais, mas pela época em que eu nasci (Beatles, Pink Floyd), cheguei à adolescência (The Police, U2, REM) e à idade adulta (Oasis, Radiohead) – não por acaso, o auge do sucesso comercial do gênero.
A história tomou outro rumo, como se sabe. Nos últimos anos, o rock sumiu das rádios, dos fones de ouvido e do coração de quem nasceu no século 21. A tímida renovação não veio com o vigor necessário para fazer frente à preferência por outros gêneros, principalmente entre os ouvintes com menos de 30 anos. O fato de a minha geração ainda ouvir rock não altera a sensação de que o estilo parou no tempo – em geral, é o gosto do público jovem que determina para que lado o vento está soprando.
Um exemplo de mudança de ventos, em outro campo, as artes plásticas, pode estar em curso neste momento, a julgar por dois artistas que ganharam grandes retrospectivas em Nova York nos últimos meses: Alice Neel (1900 - 1984), ano passado, no Metropolitan, e Alex Katz (1927), em cartaz no Guggenheim até o fim de fevereiro. Além do talento e do apelo imediato ao gosto do grande público, os dois artistas têm em comum o fato de terem produzido boa parte de suas obras na contracorrente do gosto dominante: quando o bacana era ser abstrato, Neel e Katz estavam em outra, pintando retratos de pessoas das suas relações mais próximas. Em 2022, esses quadros estão sendo apreciados de outra forma. O vento virou para o lado deles.
Talvez o rock esteja apenas em modo repouso, aguardando a chance de ser redescoberto pela geração dos filhos dos nossos filhos ou pelos filhos deles – que provavelmente vão achar muito natural que os pais não gostem da música que eles ouvem. Essa alternância de estilos e as mudanças de sensibilidade são a regra, não a exceção, na arte. Às vezes, o artista mais radical não é o que rompe com o passado, mas o que o contempla – e transforma.