Às vezes, as coisas têm que piorar muito antes de melhorar um pouco.
O que aconteceu com a Amazônia durante o atual governo estabeleceu um patamar tão indigno para a ação do Estado na proteção da floresta e dos seus habitantes que resta aos otimistas sonhar com um movimento na direção contrária nos próximos anos.
Enquanto isso, a floresta e seus defensores resistem como podem. Parte dessa história de resistência é narrada no premiado documentário O Território, que chegou aos cinemas brasileiros na semana passada. Com direção do americano Alex Pritz e participação de indígenas à frente e atrás das câmeras, o filme mostra o esforço do povo Uru-eu-wau-wau para proteger seu território, localizado em uma área de reserva ambiental em Rondônia.
Os dois personagens que conduzem a narrativa são a inquebrantável e heroica ambientalista Neidinha Bandeira e o indígena Bitaté Uru-eu-wau-wau – um garoto que ainda não havia completado 19 anos quando foi escolhido para comandar a luta do seu povo pelo direito de continuar existindo. Descendente de indígenas que viviam isolados até 1981, Bitaté aprendeu a manejar drones e a usar a tecnologia a favor da proteção da floresta. Impossível não se comover com sua coragem e a sabedoria precoce. O documentário acerta também ao dar rosto e voz aos grileiros, uma gente pobre e sem perspectiva que sonha em explorar a Amazônia da mesma forma que os caubóis desbravaram o Velho Oeste americano no século 19 – sem perceber o valor daquilo que está sendo destruído.
Assisti ao filme na última segunda-feira, Dia da Amazônia, em um cinema no West Village, em Nova York. Não foram apenas os brasileiros que saíram da sessão apreensivos com o destino da floresta – essa riqueza sem tamanho que o destino colocou sob nossa distraída proteção. Mas apenas nós temos o poder de começar a dar um novo rumo para essa história já a partir das próximas eleições.
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A melhor coisa que nós, brasileiros, podemos fazer pela floresta (além de votar contra quem defende a pilhagem) é se interessar pelo que acontece por lá – da mesma forma, ou mais, que os estrangeiros. Não deixe de assistir a O Território e de apoiar a recém-lançada plataforma de jornalismo Sumaúma (apoia.se/sumaumajornalismo), capitaneada pela multipremiada jornalista gaúcha Eliane Brum. Como propõe o manifesto da nova iniciativa: “Sumaúme-se, amazonize-se”.