Bromance é aquele tipo de palavra que nomeia algo que sempre existiu, mas, por algum motivo, nunca havia sido batizado antes. Neste caso, o laço de afeto e lealdade que une dois ou mais homens.
O termo é atribuído ao editor de uma revista de skate americana que, nos anos 1990, teria usado a expressão para descrever a amizade entre skatistas que passavam muito tempo juntos em um ambiente exclusivamente masculino. Nos anos 2000, a palavra caiu no gosto de jornais e revistas e acabou no cinema, virando uma espécie de subgênero de comédias hollywoodianas repletas de festas (de arromba), garotas (anônimas), cerveja (muita) – e rapazes dizendo bobagens, claro.
Enquanto o termo “sororidade”, muito popular nos dias de hoje, encerra um sentido político evidente – união das mulheres em torno de causas comuns e apoio mútuo em situações de conflito –, ninguém associa a palavra bromance com conversa séria ou textão. Não procure no bromance reflexões sobre as diferentes formas de excercer a masculinidade ou pautas coletivas (direitos iguais para homens e mulheres na hora de calcular a aposentadoria ou decidir a guarda dos filhos, por exemplo). O bromance existe principalmente para celebrar a camaradagem e a liberdade para negar, ou adiar, os compromissos da vida adulta. O fato de algumas dessas comédias abusarem dos clichês de uma masculinidade meio bobalhona não parece incomodar os homens. E isso não porque todos sejam iguais ou tenham um fraco por comédias hollywoodianas de segunda linha, mas porque a ideia de uma visão distorcida ou simplória do gênero masculino não é um assunto que desperte muito o interesse, ou a indignação, dos rapazes. Significa.
O diretor Richard Linklater, que ficou conhecido pela trilogia Antes do Amanhecer, emprestou alguma densidade ao gênero com o filme Jovens, Loucos e Mais Rebeldes (2015). Com muitos elementos autobiográficos, o filme retrata a rotina de um grupo de universitários que aguarda o início das aulas, em um alojamento coletivo, no início dos anos 80 – uma espécie de “continuação espiritual” de Jovens, Loucos e Rebeldes (1993), ambientado nos anos 70 e no último ano da escola. Estão lá as festas, as garotas e a cerveja – e os rapazes dizendo bobagens –, mas também as sutilezas e os jogos de poder que vêm à superfície quando muitos homens dividem o mesmo espaço durante muito tempo. Digamos que o filme está para a amizade masculina assim como Antes do Amanhecer está para o primeiro amor: fácil de gostar e de se identificar.
A ideia de uma visão distorcida ou simplória do gênero masculino não é um assunto que desperte muito o interesse, ou a indignação, dos rapazes.
Se Jovens, Loucos e Mais Rebeldes é sobre amigos descobrindo o mundo no início da vida adulta, A Melhor Escolha, filme mais recente de Linklater, em cartaz em Porto Alegre, é sobre a revisão do passado. Apesar do ponto de partida melancólico – o reencontro de três veteranos de guerra para enterrar o filho de um deles –, A Melhor Escolha de certa forma também celebra a camaradagem masculina. Mesmo quando a vida adulta e suas dores tornam as baladas mais raras, as garotas menos disponíveis e a cerveja mais controlada, a memória e o afeto são os últimos a sair da festa.