Não ficou claro desde o início de sua carreira, mas o texano Richard Linklater é, entre os cineastas norte-americanos contemporâneos, um dos que melhor falam sobre o tempo. Na trilogia Antes do amanhecer-Antes do pôr do sol-Antes da meia-noite (1995-2013), ele acompanhou a vida de um casal fictício ao longo de duas décadas. Em Boyhood (2014), sua obra-prima, radicalizou a busca pelo realismo ao narrar o amadurecimento de um garoto durante 12 anos. Em seu novo filme, revisita um de seus primeiros trabalhos, Dazed and confused (1993), que no Brasil recebeu o título de Jovens, loucos e rebeldes.
Com estreia nesta quinta-feira em Porto Alegre, Jovens, loucos e mais rebeldes (no original, Everybody wants some) acompanha um fim de semana do início da década de 1980 no campus de uma universidade dos EUA. Se o longa anterior se passava no último dia de aula de 1976, o novo narra a chegada dos estudantes para o início do ano letivo. Particularmente, um grupo que vai à faculdade mais para jogar beisebol do que para estudar (o que, vale observar, não é algo incomum, dado o vínculo umbilical das escolas superiores com a formação de atletas, times e até mesmo as ligas esportivas do país).
Linklater registra três dias e três noites de badalação do grupo formado, entre outros, pelo calouro Jake (Blake Jenner) e pelos veteranos McReynolds (Tyler Hoechlin), Finn (Glen Powell) e Will (Wyatt Russell). Eles bebem (muito), fumam maconha, vão a festas rock, country e disco, fazem bullying com o caipira Beuter (Will Brittain) e encontram garotas, muitas garotas, mas especialmente Beverly (Zoey Deutch), que para Jake representará a afirmação no universo juvenil masculino em que está inserido e, ao mesmo tempo, a possibilidade de libertação desse universo – a maturidade, em síntese.
Aí está a dicotomia que move não só Jovens, loucos e mais rebeldes, mas todo o subgênero cômico constituído pelos títulos escolares, que teve naqueles anos 1980 o seu auge. Os melhores exemplares desse conjunto são aqueles nos quais o crescimento se dá de maneira natural, despretensiosa. Superbad – É hoje (2007) homenageou os filmes "secundaristas" celebrando justamente a experiência da irresponsabilidade – que, por ser isso, uma experiência,
ajuda a levar à responsabilidade. Jovens, loucos e mais rebeldes é o
Superbad universitário.
Pode surgir, durante as quase duas horas de sessão, uma inquietação quanto ao desenvolvimento da trama. Os atores são bons, e os diálogos, idem (inclusive ao incorporar idiossincrasias da época, o que inclui algum machismo e outros preconceitos). Há sofisticação nos planos, da construção visual aos movimentos e câmera. Mas há, também, uma sensação de que todo aquele painel da vida no campus não leva a lugar algum. É próprio das construções narrativas que não obedecem às fórmulas tradicionais de roteiro, com suas curvas previsíveis e um clímax: ao cineasta interessa uma visão panorâmica do contexto, em uma trama que se revela aos poucos, o que aproxima a fruição da experiência do real –
em contraposição à fabulação mais elaborada.
Jovens, loucos e mais rebeldes não é exatamente o melhor Linklater.
Mas é um Linklater em sua essência. O que é bom.
JOVENS, LOUCOS E MAIS REBELDES
De Richard Linklater
Comédia dramática, EUA, 2016, 117min.
Estreia nesta quinta-feira no Guion Center, em Porto Alegre.
Cotação: 3 estrelas (de 5).