Somos agentes infiltrados do sobrenatural. Estamos aqui e no outro lado simultaneamente. Há quem se esconda no materialismo, há quem defenda o acúmulo e o apego, há quem não exercite os olhos do invisível. Há quem só se dê conta de que os tempos coexistem quando perde um ente querido.
Eu não desmereço qualquer sinal. Vivo sendo avisado sobre aonde devo ir ou com quem devo dialogar. Compreendo que pensamento e pressentimento são irmãos gêmeos.
Muitas vezes, eu me aproximo de pessoas em grave desespero que não exibem nenhuma aparência de desconforto. Por fora, sugerem uma quietude do repouso, mas, por dentro, arcam com terremotos de preocupações e angústias.
Eu me apresento, estabeleço um contato despretensioso, puxo papo à toa, até perguntar como está. E daí vem a honestidade. Uma nova dimensão emocional e espiritual se abre entre nós.
A intimidade exige nossa paciência. Escuto atentamente sem me interpor, sem interromper, pois sei que palavras são curativas. Falar é se perdoar pouco a pouco.
O nosso espírito é livre, e nos inspira a atravessar as fachadas dos rostos em busca da essência daquele instante, daqueles olhos.
Do mesmo modo, os mortos jamais nos deixam para trás. Essa é a verdade. Ou você acredita que uma herança inteira de cumplicidade e de conexão se dissipa de uma hora para outra?
Eles nos oferecem colo, aconchego, produzem eventos de proteção. Aliviam a nossa perda com mensagens diárias a partir dos objetos domésticos e das recordações. A vida não termina aqui, o amor muito menos.
Nas Filipinas, mãe preparou funeral de seu filho de sete anos com balões de aniversário. Queria fazer a última festa para seu menino. O velório estava todo decorado como o último soprar das velinhas, destoando da caracterização tradicional de coroas de flores e velas.
A mãe chorava copiosamente numa cadeira ao longe, distante do corpo do seu pequeno. Soluçava sem ninguém conseguir acalmá-la. Até porque é a pior dor do mundo. Nada preenche o vazio de um filho.
Então, de repente, um balão branco preso à cabeceira do caixão se soltou. Voou lentamente pelo ambiente, como se estivesse caminhando no ar, como se tivesse pernas. Rodeou os móveis, as mesas e as cadeiras, passou por dezenas de convidados e parou subitamente sobre a cabeça materna. Parou! Não se moveu mais, não saiu mais dali. Como uma nuvem de bênção. A mãe olhou para cima, assustada, distraindo-se de sua ferida, e segurou a cordinha. Segurou a cordinha como se fosse a mão de seu filho. E era a mão de seu filho, que não a abandonaria desamparada, sofrendo sozinha.
A existência é um balão. Frágil, para melhor voar. Sem perceber, ela pode se desgarrar para o alto. Para segurá-la, você precisa se concentrar. Trata-se de um barbante delicado, precioso, breve. Estamos sempre por um fio do adeus, da despedida. Não tem como prender alguém para sempre. É da natureza humana ser céu um dia.
A mãe serenou, respirou fundo e conversou com o balão. Porque só o filho entenderia o que ela estava sentindo, a enorme e insubstituível saudade.