Se você passou por uma relação dependente, certamente já ouviu esta frase: “só eu para aguentar você”.
A princípio, a sentença se assemelha a uma jura romântica, a um elogio da tolerância, mas seu sentido é o inverso: baseia-se no ato de diminuir o outro, tirando-lhe valor, mérito e poder de decisão.
Com “só eu para aguentar você”, o interlocutor faz questão de destacar que você é de temperamento complicado, difícil de amar.
Faz questão de apequenar você, controlar os seus horários, manipular os seus silêncios, domesticar as suas intenções.
Faz questão de apontar que nada do que você realiza é correto, nada do que diz é apropriado, nada do que sonha é viável, nada do que deseja é justo.
Faz questão de mostrar que ninguém mais iria querer estar com você. O envolvimento até parece uma caridade.
O que você festeja como intimidade (“o quanto ele me entende!”) é dominação. Seu par começa a falar por você, antes de você, como se soubesse o que é melhor para você mais do que você mesmo. Cria uma simbiose, coagindo-o a pedir aprovação para qualquer gesto, licença para qualquer saída.
É uma hipnose disfarçada de telepatia, uma infantilização camuflada de proteção.
Ele transmite a imagem pública de que ninguém conhece tanto você — e se habilita como seu tradutor, seu facilitador, sua ponte com o mundo. Mas tudo isso, em vez da magia da cumplicidade, tem o objetivo perverso e particular de podar a sua existência, de fiscalizar as suas afeições, de amputar os seus espaços, de debilitar a sua iniciativa.
Sem perceber, você não comandará mais a própria vida, numa convivência de natureza coercitiva.
Ele escolherá seus novos amigos, selecionará aqueles com quem precisa manter contato na sua família, com quem é adequado conversar entre seus colegas do trabalho, com quem é pertinente estreitar os laços. Nunca a sua lista e a dele coincidem. Ele sente medo do seu passado, dos seus conselheiros, dos bastiões de sua coragem.
Talvez você tenha apagado o tormento que foi o seu casamento. Por isso, pense bem antes de ter uma recaída. Jamais deve voltar a um lugar de onde se esforçou para sair.
Caso ceda a uma reaproximação, será cada vez mais complexa a fuga. Terá que mudar as desculpas, as justificativas. Amargará o dobro de vigilância, de desconfiança.
Você dá uma outra chance para a relação não porque acredita que a pessoa vai mudar, mas pela expectativa de que ela vai se compadecer de todo o seu sofrimento anterior, de todo o seu sacrifício, de toda a sua renúncia.
Só que ela é insensível para se emocionar com qualquer apelo.
Você é tratado como um troféu. Troféu não tem alma. Apenas será exposto na estante. Não poderá se mexer.
Quer se livrar definitivamente de um ex?
Então, faça um exercício, você que somente se lembra das coisas boas e se esquece das ruins, você que está acostumado a perdoar e seguir adiante.
Anote tudo de péssimo que aconteceu no relacionamento.
Abra o caderno toda manhã, para ter sempre em mente os motivos para o término do romance.
Não seja pego por uma falsa saudade. Não seja raptado pela carência. Não seja subjugado pela esperança.
O tempo longe é venenoso. Com a distância, é comum achar que aquilo que foi ruim não era tão ruim assim.