A despedida não acontece no momento do adeus. Acontece devagar, ao longo dos encontros. A cada abraço, a cada risada, a cada conversa, eu me despedia do jornalista Antero Greco. Eu tinha consciência de que, quando amamos alguém, o adeus é parcelado. Não dá para suportar uma saudade toda reunida no instante da partida.
Ele morreu na madrugada desta quinta-feira (16), em São Paulo (SP), aos 69 anos. Não pôde esperar o seu 70º aniversário, que ocorreria daqui a 17 dias. Estava internado no hospital Beneficência Portuguesa, na capital paulista, onde passou por duas cirurgias nos últimos anos. Tratava um tumor no cérebro. A via crucis havia começado em junho de 2022, ao investigar problemas cardíacos e descobrir o câncer.
Escrevia bem, falava bem, agia com justiça. Foi um dos jornalistas mais respeitados da crônica esportiva brasileira. Nem a sua camiseta palmeirense por baixo do terno o fazia tendencioso.
Autoproclamava-se um neapolitano, ou seja, um ser com raízes gregas e italianas.
Natural do sagrado solo do Bom Retiro — bairro paulistano que, no século passado, era dividido entre judeus e italianos —, exalava a cultura mediterrânea.
Formado pela Universidade de São Paulo (USP), integrou as redações do Diário Popular, Diário de S. Paulo, Estadão, Folha de S. Paulo, Grupo Bandeirantes.
Conduzia a apresentação do programa SportsCenter, da ESPN Brasil, ao lado de Paulo Soares, o Amigão. O bom humor e a ironia inteligente da dupla criaram, no noticiário noturno, uma legião de notívagos.
Era um leitor voraz. Acreditava que seria soterrado pelos livros, pois levantava barricadas de obras nas paredes do quarto, sob a vigilância dos seus chinelos furados (que jamais descartava). Tinha dificuldades de se desfazer de papéis, de jornais velhos. Chegava ao extremo de resgatar suplementos dispensados pelos vizinhos no condomínio.
Sua paixão pelas letras surgiu em seu primeiro emprego, na editora Cultrix. Durante anos revisou originais do selo, sob a orientação do poeta José Paulo Paes.
O que explica o cuidado com a língua portuguesa, a sua elegância, a sua erudição, que nunca virou afetação no meio esportivo.
Ele não me entediava: duas pessoas numa só — de óculos, ou sem óculos —, falando de esporte ou de literatura.
Ele me entendia. Sou compulsivo de Antero. Nunca vou jogar fora nenhuma de nossas lembranças, nunca esquecerei o quanto sua vida influenciou a minha vida.
Meu irmãozinho, até logo. Baci.