Gre-Nal precisa de VAR. Não importa se é primeira fase. Não importa se é Gauchão. É o maior clássico da América Latina, uma rivalidade secular, um confronto cardíaco, sempre surpreendente, sempre sorrateiro nos detalhes.
Ainda que eu considere correta a marcação de penalidade de Anderson Daronco para Kannemann em cima de Alan Patrick (vale onde terminou o empurrão) na entrada da área, não poderia existir sombra de dúvidas da legalidade.
O que quase 50 mil torcedores testemunharam, um público recorde no Beira-Rio para o clássico 441, é digno de uma final. Nem o empurra-empurra nos acréscimos roubou os méritos e a qualidade do espetáculo.
Tanto Coudet quanto Renato usaram todas as suas peças e sua criatividade para colocar a gangorra a seu favor.
Prevaleceu a sanha colorada. Houve de tudo um pouco: os santos e os vilões, os heróis e os proscritos, o Judas e o Messias.
Renê fez a pior exibição de um atleta num Gre-Nal. Além do gol contra bisonho ao dominar a bola na frente do goleiro Anthoni, não freou Villasanti em sua infiltração para o segundo gol do Grêmio e errou uma infinidade de passes, possibilitando contra-ataques. Ele não saiu queimado do gramado, mas carbonizado, acrescentando a atuação desastrada ao histórico de antagonista na eliminação para o Fluminense na Libertadores. A posição está vaga, assim como a do goleiro, caso o Inter realmente deseje voltar a obter títulos e talvez cumprir o melhor ano das suas últimas temporadas.
Se a lateral esquerda do Inter assumiu o protagonismo da bizarrice, já a lateral direita produziu os melhores momentos da equipe, com Bustos e Wanderson conferindo amplitude pelos flancos.
Do lado do Grêmio, despontou uma estrela em ascensão: o jovem Gustavo Nunes, que, aos 18 anos, não sentiu a responsabilidade e o peso do primeiro clássico.
Mas o favoritismo acabou se confirmando. Mauricio mostrou que, se não estivesse como reserva no Pré-Olímpico, o Brasil estaria nas Olimpíadas de Paris. Puxou a reação, serviu, abriu-se para a triangulação. É o nosso aprendiz de feiticeiro de Alan Patrick – este, por sua vez, um maestro, um regente, um 10 absoluto, que decide o placar levando a marcação.
Ainda tivemos aquele jogador do banco chamado às pressas para resolver: o argentino Alario, que parece ter superado o período de adaptação e reencontrado o caminho vocacionado das redes. Fez o gol 600 do Inter nos Gre-Nais, recompensando a valentia de Coudet, que havia tirado Bruno Henrique um pouco antes para a entrada do centroavante.
Com a sua segunda vitória consecutiva no tradicional embate, Inter quebra a hegemonia gremista e inverte a freguesia.
A vitória por 3 a 2, pela penúltima rodada da primeira fase do Gauchão, garantiu ao Internacional a primeira colocação da fase classificatória com uma rodada de antecedência, somando 25 pontos e o mando de campo no mata-mata. É uma vantagem que soa simbólica, porém é gigantesca, ainda mais diante do retrospecto desfavorável do Inter na Arena.