É preferível falar o que você gosta no começo da relação, doa a quem doer. Vai doer sempre menos no início. Com o tempo de convivência, fica cada vez mais difícil dizer a verdade e repor os fatos.
Sinceridade é pontualidade. Culpa é atraso.
A maior temeridade é um querer agradar ao outro e ambos terminarem fazendo o que odeiam. Se o casal não revela as suas preferências, a tendência é realizar conjuntamente algo com que não tem simpatia.
Se João mente que adora azeitona e Maria também mente, estarão comendo azeitonas a contragosto em pastéis, em bacalhaus, em pizzas, em empanadas, sem contentar ninguém à mesa. A libertação pode tardar a acontecer. Ficarão cuspindo caroços à toa por demorados anos de conserva.
O correto é sempre questionar o que o outro deseja, por mais repetitivo que seja.
Eu vivenciei uma situação parecida com Beatriz.
Lembro que, na primeira vez em que fiz uma torrada para ela, quando ainda namorávamos, perguntei se ela queria orégano. Ela disse que sim.
Ao longo das manhãs, sempre que eu preparava um sanduíche quente para ela, colocava orégano. Nem sou muito fã de orégano. Considero sua presença invasiva e escandalosa na comida, até me produz espirros. Mas fiquei com aquela bandeira fincada na cabeça de que ela apreciava orégano. Não seria eu a contrariar as suas paixões e idiossincrasias.
Como eu estava a conhecendo, montava seu perfil a partir daquilo que perguntava. Não recebi nenhum currículo.
Noivamos, casamos, e, num determinado café antes de sairmos ao trabalho, ela me perguntou, assustada:
— Por que você coloca orégano em tudo?
Eu respondi de bate-pronto, como se fosse uma prova de amor, como se eu fosse colher um elogio:
— Para alegrar você!
Daí veio a verdade:
— Eu não gosto de orégano.
Foi apenas uma fraqueza episódica dela quando consentiu com aquele tempero, delicadeza de namorada no princípio dos laços, preocupada em satisfazer os caprichos do seu par.
Só que em nenhum momento ela pensou que o inofensivo “sim”, um acaso de palavra, viraria condenação perpétua das folhas secas aromáticas.
Nunca comprei tantos potes de orégano por mês. Sua reposição em casa rivalizava com a garrafa de azeite. Os estoquistas do supermercado já me conheciam, talvez me temessem:
— Lá vem o homem do orégano!
Ao concordar comigo em nosso desjejum fundador, Beatriz emitiu uma opinião que sequer era importante. Mas eu transformei sua posição provisória em definitiva, numa crença incontestável a respeito de sua personalidade e de seus hábitos.
O correto é sempre questionar o que o outro deseja, por mais repetitivo que seja. Nunca adivinhar ou achar que sabe. Vá que seja uma cilada da educação.
Por cautela, tenha cuidado com os oréganos da vida. Eles tiram o sabor da franqueza.