Os amigos estão com a mania de se casar longe, de preferência numa praia paradisíaca no Nordeste.
Em vez de uma lua de mel sozinhos, querem levar todo mundo junto. Mas não é isso. Quem dera que fosse altruísmo. É uma maneira educada de enxugamento pessoal, de contenção de recursos, para não ser incriminados ao deixar alguém de fora da lista.
Como o casal não tem como chamar a relação completa de seus conhecidos e parentes, e bancar uma festa para centenas de comensais, realiza uma triagem financeira. Só vai quem reúne condições, quem consegue pagar hospedagem e translado.
Assim ninguém se sente excluído. No máximo, alguns se verão discriminados.
Ostentação e economia se misturam.
O pomo da discórdia é que o povo não deseja mais um matrimônio na igreja do bairro, com o padre do bairro, no mesmo lugar em que o pai e a mãe fizeram seus votos, naquela proximidade pacífica de aldeia. Agora só cobiça locações edênicas. Prioriza o drone: a vista de cima de uma cerimônia em uma praia da Bahia ou Pernambuco, com os pés descalços na areia e os noivos de branco pulando sete ondas da sorte.
Tudo já é minuciosamente calculado para o vídeo que será postado nas redes sociais.
A gravação determina a realidade, não o contrário.
O altar virou set cinematográfico. Perdeu a espontaneidade das gafes familiares. Parece uma longa encenação controlada, jamais algo acontecendo naquele exato instante.
Se há uma adoração pelas imagens aéreas, bem que o par poderia ter escolhido uma chácara no interior ou uma tenda no Litoral Norte. Seria possível chegar facilmente de carro e ratear combustível.
Só que o status prevalece. O casal compra a ideia romântica de ilha da fantasia, distante do lar.
Danem-se os convidados. A preocupação com a produção, com a manicure, com o cabelo torna-se insignificante perto de fazer a bagagem para cumprir os dias de cerimônia. Você não vai a um casamento com hora para começar e terminar, passa a frequentar todos os seus preparativos. Deve estar na véspera e no pós da festa.
Existe um transbordamento de exigências e expectativas. A cobrança pela imagem é maior, com a preocupação dos figurinos do café da manhã ao jantar. Um videomaker acompanhará os seus passos, suspiros, bocejos e risadas.
Você terá que antecipar o pacote de férias da família por alguns dias. Será obrigado a lidar com prejuízo. Saudade do tempo em que você gastava apenas com o presente e com a roupa da ocasião. Agora você precisa se dar de presente.
Se não comparecer, ficará na cara que está na pindaíba. Ainda será malfalado, como quem não alcançou prosperidade na vida, quem não desfruta de estabilidade.
Se comparecer, entrará na forca de gastos, pois será convocado para a festa não com tanta antecedência, amargando bilhetes aéreos em cima do laço por cifras galopantes.
No momento de se casar, pense na situação dos seus amigos. Tenha compaixão com quem está casado.