Não criamos os filhos para nós, mas para o mundo. Uma das tarefas mais complexas e constrangedoras da paternidade e da maternidade é deixar o filho sair de casa.
É não querer viver por ele, mas deixar que ele sobreviva por sua conta e juízo. Nem cabe ajudar a fazer a mala. A mala já é uma outra estrada, diferente da sua, uma estrada unicamente dele, em que não é possível mexer.
Não pode ser egoísta, não pode gritar, não pode chorar, não pode intervir, não pode pedir a ele que desista. Só resta o silêncio da saudade mais visceral.
Porque não é nem um pouco instrutivo demonstrar apego nessa hora. Está proibido de falar o que sente para não criar medo e culpa.
Se dificultar o desenlace com a sua emoção, ele pode recuar para sempre, abandonar os sonhos pessoais e permanecer inativo e apagado ao seu lado.
O filho deve ser forte para enfrentar a realidade. Qualquer palavra contrária colocará tudo a perder.
Se dificultar o desenlace com a sua emoção, ele pode recuar para sempre, abandonar os sonhos pessoais e permanecer inativo e apagado ao seu lado. Será muito pior: terá um fantasma da covardia em vez de um jovem esperançoso.
Seu papel é encorajá-lo, por mais que esteja ferido por dentro, por maior que seja o pânico do futuro imprevisível longe da sua tutela.
Não é justo dizer que hoje você precisa mais dele do que ele de você. Não é justo cobrar gratidão. Não é justo trazer dúvidas e senões à tona.
É como assistir ao seu próprio velório por antecipação. Quem você mais ama na vida está se desligando da sua proximidade.
Não importa se ele vai estudar, trabalhar, casar, viajar para longe. O pretexto é secundário, porque a dor é monstruosamente igual.
A residência ficará mais espaçosa, não saberá o que fazer com um dos quartos, a conversa no almoço ou no jantar com a esposa ou com o marido sofrerá baques de desencanto. Metade de sua existência não servirá mais para nada, já que era antes voltada inteiramente para o filho. Terá que se reinventar e ocupar novamente o seu tempo para não sofrer tanto.
Você morre naquela despedida. O coração torna-se um ninho vazio. Mas não é um ninho vazio com os galhos secos, com o seu fracasso, é um ninho vazio na exuberância da árvore dando frutos.
Dificilmente conseguirá enxergar o sucesso da missão com o suor de desalento escorrendo pela mão do aceno, porém preparou a sua criança para o universo adulto das responsabilidades. O que não é pouca coisa.
Não pode fazer mais nada além de esperar que ele não se esqueça dos seus conselhos e do quanto é amado.
Ensinou o seu filho, pela última vez, a andar de bicicleta. Ofereceu o impulso, correu junto, empurrou a traseira até ele ganhar velocidade. Agora precisa dizer com a voz embargada:
— Não olhe para trás!