Assim como Falcão é Inter, Reinaldo é Galo, Renato é Grêmio, Zico é Flamengo e Sócrates é Corinthians, Roberto Dinamite é Vasco.
O atacante cruzmaltino morreu aos 68 anos, em decorrência de um câncer no intestino. Foram 1.110 jogos e 708 gols. Ao lado de Pelé (Santos) e Rogério Ceni (São Paulo), é jogador brasileiro com mais de mil partidas por um único time.
Sua fidelidade a um fardamento não existe mais, é coisa do passado. Hoje promessas são vendidas ainda adolescentes para o exterior.
Dinamite fez história praticamente num só escudo, criando uma filiação apaixonada e uma idolatria inigualável com a torcida.
É o maior artilheiro do Brasileirão, com 190 gols, marca inalcançável. Da mesma forma, é o maior artilheiro dos clássicos cariocas e do Campeonato Carioca, com 284 gols.
Dinamite tornou-se uma lenda em campo por três décadas (70, 80 e 90). Carregava o Gigante da Colina nas costas.
Nem a longa atuação política ou como dirigente esportivo superou a sua fama nos gramados. Seus cinco mandatos consecutivos como deputado estadual no Rio de Janeiro não obliteraram a sua carreira com as chuteiras.
Conquistou um Campeonato Brasileiro (1974) e cinco Campeonatos Cariocas (1977, 1982, 1987, 1988 e 1992) pelo Vasco.
Os duelos travados com Zico tiravam o fôlego até de quem não era carioca. Na rivalidade, ele apresentou incontestável vantagem, com mais vitórias (13 a 12), com mais gols (22 a 14), com mais títulos (4 a 3). Foi um pavão em cima do Galinho de Quintino, que chegou a vestir a sua camisa dez como homenagem.
Parecia que jogava com pernas de pau, sobrevoando a marcação de um lado para o outro, muito acima do chão. Numa única e épica partida contra o Corinthians num Maracanã lotado, em 1980, marcou cinco gols.
Ao mesmo tempo maestro e orquestra, líder técnico e matador, buscava o jogo e finalizava. Atleta completo, conseguia armar, tabelar e concluir.
Tinha ganas e surtos de centroavante, mordendo a marcação desesperadamente, mas ao longo da partida se comportava com a elegância contida de um meia, sem pressa nenhuma. Ele surgia do nada, em arrancadas gloriosas, em cabeceadas maravilhosas, dividindo a sua personalidade simetricamente entre a sua porção médico e a sua porção monstro.
Falta perto da área significava bola acordando a coruja. Falta correspondia a pênalti para desespero dos arqueiros adversários. Mestre da cavadinha, desequilibrava placares. Não é por menos que tem uma estátua no São Januário.
Sua explosão muscular, seu chute poderoso e sua aparição repentina na pequena área garantiram o seu apelido já nos juvenis, que passou a ser acrescentado ao nome de Carlos Roberto de Oliveira.
A consagração do batismo veio curiosamente contra o Inter, em sua primeira atuação como profissional, no Maracanã, em 25 de novembro de 1971. Saiu do banco para driblar quatro marcadores e acertar um petardo no ângulo, sem chances para o colorado Carlos Gainete.
No dia seguinte, o Jornal dos Sports estampava em sua manchete: “Garôto-Dinamite explodiu".
As goleiras hoje estão de luto. O véu branco das traves perdeu o seu mais enamorado noivo.