Você se separa e se dá conta da vida maravilhosa que tinha. Você sai de um emprego e percebe, nostalgicamente, que ele produzia mais felicidade.
Talvez seja um pouco dessa desilusão retroativa que Edegar Pretto deve estar sentindo em relação à sua campanha para o governo.
Ele não desfrutava da noção de que a sua candidatura estava tão forte. Se soubesse, poderia estar no segundo turno. Foi mais uma das vítimas da pesquisa eleitoral, que o colocava em terceiro lugar, distante cerca de 10 pontos do pelotão da frente e 20 do primeiro colocado.
Ele perdeu a disputa com o ex-governador Eduardo Leite por um dente — justamente o dente que Leite deixou cair no dia da eleição, mordendo um pistache.
O representante da aliança PT, PC do B, PV, PSOL e Rede amargou uma derrota por um detalhe, uma diferença de vereador numa chapa majoritária para o governo. Saiu da disputa por uma margem mínima de apenas 0,04%. É o equivalente a duas vezes a população de André da Rocha, o menor município gaúcho.
Dói muito aparecer assim, colado na linha de chegada, ficando atrás apenas por fios de cabelo.
Se eu fosse Edegar, depois dessa contagem eletrizante (nunca houve nada parecido na história democrática do Estado), jamais dormiria em paz. Eu seria um sonâmbulo revisando cada carreata, cada aperto de mão, cada olhar e cumprimento dado no último mês. Se eu fosse ele, pensaria em todos os indecisos que poderia ter convertido num único dia para mudar a história.
Eleição é somente para os fortes. Quantos caíram por arrogância? Você é famoso, mas isso não é suficiente. Você é conhecido, mas não inspira confiança. Você tem milhões de seguidores nas redes sociais, que não se convertem em números reais na apuração.
Eleição é sempre uma surpresa entre o voto útil e o envergonhado. Tem gente que não diz em quem votou nem após comparecer à urna, imagina se diria antes para uma enquete.
Edegar tombou, pelo contrário, por subestimar a sua influência, o seu crescimento, o seu poder de persuasão. O discurso na reta final seria diferente com a consciência de que estava próximo do pódio.
Atingir o coeficiente de 1,7 milhão de votos e não se habilitar por apenas 2.441 votos é viver o quase por uma existência inteira. É não se cansar de hipóteses e fantasias. É o mesmo que queimar a sorte acertando cinco números da Mega-Sena — não há como acreditar que acertará os seis em outra oportunidade.
O que serve de prêmio de consolação é que Edegar Pretto decidirá a eleição de fora. O novo governador será aquele a quem ele declarar apoio no segundo turno.
Dificilmente apadrinhará o surpreendente e hoje favorito Onyx Lorenzoni (PL), por ser bolsonarista, campo contrário do petista.
Mas, para obter a adesão, Eduardo Leite terá que sair de cima do muro, largar o discurso de moderação e fazer campanha para Lula, correndo o risco de sacrificar simpatizantes conservadores (que odeiam o PT).
Uma possível neutralidade de Edegar conferirá vitória esmagadora a Onyx.
Continuo não querendo estar na pele dele.