Sempre que um casal de amigos se separa, você se separa junto.
É um divórcio coletivo. Nunca atinge somente marido e esposa ou filhos.
Você participará da partilha dos bens, da revisão do patrimônio. Aliás, estranhamente, será um dos itens a ser dividido.
Se é amigo dos dois, tem que escolher uma das partes para apoiar na separação.
Talvez seja a maior dor da amizade que enfrentará em sua vida: conviver com alguém por muito tempo e ser obrigado a renunciar sua companhia de uma hora para outra, por motivos alheios à sua vontade.
Não estará se distanciando por um desentendimento ou por uma deslealdade — a pessoa não fez nada de errado para você.
É triste, mas é inevitável. É o prejuízo que deve assumir. Não tem como servir a dois reis ao mesmo tempo. Não tem como ser conselheiro de ambos, senão você será usado como mensageiro de farpas e ofensas, como leva e traz de narrativas.
Você não vai sobreviver lavando roupa suja em dois tanques. Ou sendo mediador de conflitos — nem está preparado para tal empreitada diplomática, nem é capaz de filtrar o ódio depois do amor e perdoar exageros naturais do desencanto.
Precisará enfrentar o sacrifício e optar apenas por um lado, o que significa deixar de falar com o outro, deixar de ver o outro, deixar de responder ao outro, deixar no vácuo um afeto sem culpa nenhuma, mesmo se dando bem com ele, mesmo gostando dele com igual intensidade.
Não há tortura tão pesada quanto receber mensagens e áudios no WhatsApp e não responder de propósito. Parece até maldade, indiferença, ingratidão.
Mas não tente milagres de reconciliação. A decisão dos amigos é essencialmente pessoal. Você não estava lá para saber o que aconteceu. O Cupido funciona exclusivamente no primeiro encontro, pois seu feitiço é logo desfeito com a convivência.
O que você pode fazer é atender integralmente uma das partes, oferecer colo para a sua recuperação, socorrê-la com horas de escuta para a cicatrização da ferida, visitá-la para discutir perspectivas e novos caminhos emocionais.
Quem cuida de duas metades jamais se mostrará inteiro e não ajudará ninguém.
A encruzilhada não permite hesitações. Apanhará tanto da situação quanto da oposição em caso de indecisão.
Eu costumo usar um critério neutro que me poupa do constrangimento e da pressão por um julgamento: fico com a minha amizade mais antiga.
Permaneço na trincheira de quem eu conheci antes. Assim escapo de opinar sobre quem tem razão na briga.
Não é justo, mas tampouco é injusto.