Sempre me chamou atenção o pouco apreço do país para a ciência. Acima da cultura, encontra-se a ciência, que desenvolve pesquisas nas áreas de Saúde e Bem-Estar.
A ciência é a alma da cultura.
Desde a escola, quem mais sofre bullying é a criança inteligente e aplicada, muito mais do que os bagunceiros com notas ruins. Ela é excluída pelos colegas como sabichona, apelidada de CDF, unicamente procurada para dar cola. É também posta de lado involuntariamente pelos professores, já que é castigada por saber demais. Se ela levanta o dedo para responder a uma pergunta em sala de aula, é capaz de ser negligenciada para oferecer chance aos demais; se ela termina uma prova antes da hora, tem que esperar todos terminarem; se ela avança no conteúdo, tem que silenciar e acompanhar a turma.
O superdotado é sufocado, não ganha orientação especial e suplementação para incentivar as suas habilidades. Pelo contrário, precisa esconder o seu potencial para ser aceito. Nos Estados Unidos, por exemplo, receberia bolsa integral; aqui é vítima da discriminação.
Nesta linha de atrofia do conhecimento, em que parece um escândalo ter erudição no Brasil, em que falar e escrever bem soam como arrogância elitista, o governo acaba de bloquear as contas dos institutos e universidades federais.
O governo de Jair Bolsonaro suspendeu R$ 2,4 bilhões do orçamento do Ministério da Educação (MEC) deste ano. Para onde vai essa verba? Para o fundo eleitoral? Para o Auxílio Brasil, em pleno segundo turno?
Na base da pirâmide, os primeiros atingidos são os institutos da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, acumulando uma perda de R$ 300 milhões. Foram congelados R$ 147 milhões no momento e o restante havia sido sustado em junho.
As escolas técnicas tornam-se inoperantes, inviabilizando o custeio de transporte, merenda, internet, chip de celular e bolsas aos estudantes mais necessitados.
Em seguida, agrava-se a crise nas universidades, com um rombo de R$ 763 milhões em relação ao que havia sido aprovado no orçamento de 2022.
Se os nossos filhos já estavam impossibilitados de seguir carreira acadêmica, com cortes na iniciação científica, mestrado e doutorado, inibidos para se aprofundar na sua área de atuação e fazer intercâmbios, talvez eles não possam nem completar a faculdade.
É uma violência boçal à educação pública de qualidade. Uma profanação do nosso futuro.
Famílias que acalentam o sonho de ver seus jovens diplomados ou que aspiram à aprovação de seus adolescentes no Enem ou no vestibular já podem temer a descontinuidade das atividades na nossa UFRGS.
Não é alarmismo de minha parte. Estamos diante da completa inanição financeira, um empurrão para a inadimplência das despesas livres da instituição.
No ano passado, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) chegou a ameaçar fechar as portas. Agora levaram embora definitivamente as chaves de nossas universidades.