Na adolescência, o grande medo masculino era não conseguir tirar o sutiã da namorada com rapidez. Não se podia olhar, não se podia demorar, não se podia confundir o caminho do fecho ou do ganchinho. Beijava-se longamente para ganhar tempo e despistar a dificuldade de soltar a presilha com um dedo.
Não há quem não tenha treinado com o sutiã da irmã no varal. O pesadelo da inexperiência se resumia a fracassar na operação e acabar com o clima passional e intenso. Na verdade, temíamos que, diante de um lapso, a nossa parceira se desse conta de que éramos inábeis e mudasse de ideia quanto ao envolvimento.
Mal sabíamos, naqueles anos dourados, que havia uma prova de habilidade mais homérica e complexa no relacionamento. E nada tinha a ver com abrir pote de pepino sem o apoio de um pano de prato. Ou matar baratas com uma chinelada de primeira. Ou consertar a resistência do chuveiro. Ou trocar pneu do carro na estrada.
O sutiã é brinquedo perto de tirar as botas da sua mulher. Quem já tentou entende o que estou falando. Quem não tentou ainda tem a chance de se antecipar ao desgosto.
Quando a sua esposa pedir ajuda para tirar as botas de cano alto, deitada na cama, cansada do trabalho, imóvel e atenta aos seus movimentos, prepare-se para a gincana.
Não subestime o valor do ato. Não é apenas uma gentileza, mas um exame de inteligência. Equivale a encaixar as cores iguais num cubo mágico. Você estará sendo avaliado – é um psicotécnico do amor.
Talvez raciocine que é fácil e barbada e assim não sairá do lugar, atolando o calcanhar dela no fundo da sola.
Talvez pense em usar a força física, esticar no tranco, numa alavanca linear. Não é a solução. Cairá para trás com as mãos vazias.
Não invente de dar vexame sendo arrogante, cantando vitória por antecipação.
Ela lembrará por toda a vida que você não serve nem para tirar as botas. Portanto, conserve a humildade de decisão, o foco de mata-mata, a precisão de jogo eliminatório. Se errar, está fora. Não adianta beijar os pés dela depois, arrependido, pedindo uma segunda chance.
É tudo jeitinho. A fórmula de sucesso consiste em firmar e afastar as próprias pernas, como se estivessem no repuxo do mar, e jamais puxar a bota diretamente para frente. O primeiro movimento deve ser de ré. Dê um empurrão para dentro, como se estivesse colocando de novo o calçado, e, daí, então, puxe para frente.
Dependendo do pilantra, a mulher não facilita o trabalho e calça uma bota menor do que o seu número, apenas para testemunhar o sofrimento e o suor inúteis.