Assim como, no casal, há aquele que carrega a térmica de água quente e o outro que leva a cuia na hora das caminhadas, existe também o que é liso, sem nada na carteira, e o outro que anda com troco.
Todo par amoroso é formado por esses contrários. Os opostos se atraem, se distraem e se amparam.
Há o que nunca passa na agência e o que não dispensa a clássica e antiga visita. Há o otimista e o pessimista realista. Há o que acredita que sempre dará um jeito virtualmente e o que providencia soluções reais. Há o desencanado no mundo da lua e o preocupado com a luz do sol. Há o folgado e o cauteloso. Há aquele que vive de espírito e o que cuida de urgências e dos imprevistos da saúde. Há o desatento e o prático.
O amor se faz de temperamentos antagônicos, que se completam, inteiros diferentes que se encaixam. Raramente, por exemplo, os dois vão planejar juntos, de modo igualitário, uma viagem de férias. Aliás, o que acontece é uma injustiça. É sempre um que realiza a tomada de preços, marca vans e hotel, compra passagens, traça o roteiro de passeios e restaurantes, e um outro que somente tem o trabalho de embarcar.
No meu casamento, sou do partido da escassez. Nunca mantenho nenhuma nota na carteira, nenhuma cédula, só perambulo com cartões de crédito e o meu charme. No aperto, quando sozinho, recorro ao bendito Pix.
Já a minha esposa, Beatriz, é precavida, não sai para a rua desprovida de um dinheirinho de papel. E eu me aproveito. Acabo sendo oportunista. Ela se transformou em meu caixa automático, meu caixa 24h para pequenas somas.
Para que ir ao banco e ter o transtorno de sair de carro se ela está sempre comigo, ao alcance, com a sua bolsa de mágicos trocados? Não faz sentido qualquer deslocamento ou mesmo suportar congestionamento e filas.
No momento do flanelinha, é com ela. No momento da gorjeta, é com ela. No momento de receber o entregador, é com ela. No momento de comprar frutas e verduras na feira, é com ela. No momento da caridade na sinaleira, é com ela. No momento da banca de revistas, é com ela.
Ela não aguentou a descomunal exploração e resolveu o impasse. Como não contava com disponibilidade para me reeducar nem havia como me devolver para a minha mãe depois de tanto tempo comigo, decidiu estabelecer uma mesada. Sou um marido que recebe mesada em mãos toda semana. Não posso reclamar.