Todo apaixonado faz extravagâncias. Gasta o que não tem com presentes e mimos. Gasta o que não tem com jantares e viagens. Gasta o que não tem para impressionar o seu par. A simplicidade e a divisão das contas só surgirão depois, com a chegada do amor.
Na paixão, somos perdulários. Se um jovem se endivida por gostar de alguém, ninguém comenta nada, ninguém acha estranho, mas, se é uma pessoa mais velha, já pensamos que está sofrendo um golpe e que a companhia com quem está saindo é oportunista e mira a sua herança.
Não é permitido se apaixonar na maturidade? É ilegal? Há idade no coração?
Felicidade e liberdade na terceira idade são sintomas, não atitudes naturais e aceitáveis.
Os idosos não podem ser irreverentes. Caso contrário, já questionamos a sua sanidade, já enxergamos doença no fio de cabelo grisalho, já escrutinamos as suas decisões.
Se o velho não é monótono, tedioso, rotineiro, ele não anda normal. Como se a velhice fosse um apagar das luzes, cansaço, desistência de viver.
Qualquer desvio do padrão de comportamento esperado é catalogado como demência. Qualquer explosão de intensidade é entendida pelos mais próximos como um surto.
Se o filho perde a carteira ou o celular, é distraído. Se o mesmo acontece com os nossos avós, estão ficando esclerosados.
Se o filho compra dez camisetas pretas, é prático, não pretende sacrificar o tempo escolhendo sua roupa para sair. Se o mesmo acontece com quem tem setenta anos, seu exagero não será perdoado.
Se o avô decide percorrer o mundo em cima de uma moto, é que enlouqueceu. Não existirá objeção a um jovem com esse propósito, aliás, elogiaremos a sua postura aventureira e a sua coragem.
Se a avó troca o bingo e o carteado com os amigos pela balada, é que vem caducando, perdeu o senso de ridículo e não sabe mais se controlar. A família é capaz de se reunir em segredo para tomar providências. Não duvide que ela seja interditada.
Felicidade e liberdade na terceira idade são sintomas, não atitudes naturais e aceitáveis.
Condicionamos os idosos a uma expectativa de mantas de crochê, palavras cruzadas e pantufas. Temos um estereótipo que nos paralisa. Agimos com preconceito, não permitindo as saudáveis metamorfoses de acordo com os contextos.
Esquecemos que iremos nos transformar até o último dia de nossas vidas. Haverá evolução até a última hora de nossas vidas. Até o último minuto, ainda mudaremos de opinião.