Na última quarta-feira, após sete anos de obras, oito aditivos ao contrato e infortúnios à população, a prefeitura de Porto Alegre inaugurou os 320 metros da trincheira da Ceará.
A liberação de uma via que mexe profundamente com a vida de milhares de pessoas na zona norte da cidade, que impacta a rotina dos motoristas que entram e saem da Capital, recebeu ampla cobertura da Redação Integrada. É sobre isso que vou falar.
Em três tópicos, descreverei um pouco dos bastidores de uma cobertura que se estendeu por quase uma década.
PROFUNDIDADE – Em ZH, a trincheira da Ceará foi tema de pelo menos 40 reportagens desde 2012. A mais profunda e completa, assinada pelo repórter Marcelo Gonzatto, veiculada em agosto de 2019, mostrou como a obra deveria ter sido melhor planejada para evitar desperdício de dinheiro público e sucessivos atrasos – os oito aditivos fizeram o projeto saltar de R$ 29,5 milhões para R$ 39 milhões. O projeto básico, revelou Gonzatto, não identificou corretamente a instabilidade do solo no local, e o cronograma de trabalho não previu que a proximidade com o aeroporto limitaria o uso de equipamentos muito grandes de madrugada, por exemplo. Além disso, uma boa engenharia diz que inicialmente se deve fazer intervenções subterrâneas para depois construir estruturas elevadas. Naquele caso, primeiro se ergueu o Viaduto Leonel Brizola, para depois se escavar a trincheira. Para desviar dos pilares do viaduto, a trincheira teve de ser projetada com duas curvas.
– Como a via foi aberta em um lençol freático, a cada minuto vazam 15 litros de água para dentro da trincheira. A escolha de outro método poderia ter evitado o escoamento da água, mas, novamente, faltou planejar – conta Gonzatto.
CONSTÂNCIA – Uma outra frente aberta, sob os cuidados do repórter da Rádio Gaúcha Jocimar Farina, foi focada na Rádio Gaúcha e em GaúchaZH. Atuando com um cão de guarda na defesa dos interesses da comunidade, Jocimar, que, entre outras habilidades, é o maior especialista em obras públicas na Redação, publicou pelo menos 70 notas e reportagens no ambiente digital ao longo de sete anos – é impossível contar os comentários nos espaços que Jocimar ocupa na Rádio Gaúcha.
– Não havia semana em que eu não deixasse de verificar o assunto. É importante lembrar que, durante praticamente metade do período da construção, a obra esteve parada, por causa de problemas como erro em projeto e falta de dinheiro.
SOLENIDADE – O terceiro aspecto é a solenidade que demos para a inauguração de uma obra que sintetiza a incapacidade de órgãos públicos se organizarem para execução de um projeto. Um dia antes da inauguração, o gerente de Jornalismo da Gaúcha, Daniel Scola, que apresenta o Gaúcha Atualidade com Rosane de Oliveira e Carolina Bahia, sugeriu fazer o programa direto da Ceará.
– O assunto da trincheira estava entre os temas que provocavam a nossa cobrança – revela Scola.
E assim foi feito. Quando veículos começaram a trafegar pela trincheira recém-aberta, o Atualidade tocou Aleluia. Ao fundo, motoristas buzinavam.
– Vamos cobrar para que as autoridades nunca mais permitam que uma obra demore tanto – complementa.
Na Redação, seguimos na nossa trincheira: a trincheira do jornalismo.