O Rio Grande do Sul registrou pelo menos 1.904 ataques a bancos ao longo dos últimos 10 anos.
É como se bandidos roubassem uma agência a cada dois dias no mais meridional dos Estados brasileiros.
Os crimes, quase sempre violentos, transformaram-se em uma epidemia. Dos 497 municípios gaúchos, 351 (70%) já tiveram agências como alvo.
As informações acima, que ilustram a capa da Zero Hora deste fim de semana (6 e 7/4), não foram fornecidas pelos órgãos de Segurança Pública. O mais completo raio X de ataques a banco já publicado na imprensa gaúcha, apresentado em quatro páginas de ZH, em um especial de GaúchaZH e levado ao ar pela Gaúcha, é resultado de um trabalho minucioso capitaneado pelo repórter e colunista Jocimar Farina.
Ao perceber o incremento de assaltos a banco, no segundo semestre de 2008, Jocimar deparou com a inexistência de números oficiais capazes de dimensionar o fenômeno.
– A Secretaria da Segurança não fazia contabilização alguma sobre esse tipo de crime – recorda Jocimar, que ancora o Gaúcha Hoje na companhia do jornalista Antônio Carlos Macedo.
Em janeiro do ano seguinte, com auxílio de uma planilha de Excel, Jocimar passou a separar as ocorrências por cidade, região, banco, forma de atuação das quadrilhas e densidade populacional. Nascia um banco de dados que iria, a partir daquele momento, subsidiar informações para reportagens de veículos do Grupo RBS.
Graças ao monitoramento de Jocimar, é possível identificar, por exemplo, que em 2010, com o uso de explosivos para abrir cofres (prática que compromete inclusive a estrutura de prédios residenciais que abrigam agências), o crime mudou de patamar, tornando-se ainda mais organizado, mais audacioso e mais violento.
– A própria Delegacia de Roubos da Polícia Civil já reconhecia o nosso levantamento como legítimo e oficial – complementa Jocimar.
Agora, pela primeira vez, os dados armazenados em 10 anos foram esquadrinhados com a ajuda do repórter especial Cid Martins (um dos jornalistas mais premiados do Brasil) e do repórter de Segurança Hygino Vasconcellos, que, entre outras credenciais, é apaixonado por jornalismo de dados.
Sob a coordenação do editor de Segurança Lúcio Charão, o trio trabalhou durante quatro semanas analisando números, consultando especialistas, entrevistando moradores, principalmente de municípios da Serra – onde estão as cidades recordistas de ataques –, região que tem as rotas de fuga mais visadas pelas quadrilhas e pouco policiamento. Além de revelar a facilidade com que bandidos atuam no Estado e de dar voz a comunidades acossadas pelo estampidos de fuzil, os repórteres vão mostrar, na edição de segunda-feira de ZH, em GaúchaZH e na Rádio Gaúcha, o que autoridades e instituições financeiras podem fazer para reduzir a incidência de crimes.
A reportagem reforça um dos mantras da Redação Integrada: produzir conteúdos exclusivos e de qualidade, que você não encontrará em veículos concorrentes, em páginas do Facebook ou em grupos de WhatsApp. Boa leitura.