Diante de uma edição com seis reportagens de fôlego e mais de uma centena de notícias, quais os temas que merecem estampar a manchete e a foto de capa da Zero Hora de final de semana?
Este é um dos desafios que se repetem todas as sextas-feiras na Redação, horas antes de concluirmos a edição e mandarmos as páginas para as rotativas.
A manchete, a foto de capa e a escolha dos destaques sinalizam para o leitor os principais assuntos produzidos por cerca de 300 profissionais da Redação integrada. É a mais complexa curadoria feita pelos editores de ZH.
Nem sempre acertamos. O que é compreensível pelo grau de subjetividade que envolve o nosso ofício. Mas há alguns cuidados que minimizam as possibilidades de erro. O primeiro deles é o planejamento. As edições de fim de semana são pensadas nas primeiras segundas-feiras de cada mês, quando analisamos o cardápio de assuntos oferecidos pelas editorias. Como regra, buscamos valorizar temas soft e hardnews, que sejam relevantes e abrangentes, que tenham bastidores, que contenham análises e interpretação, que emocionem e que divirtam. Com as pautas definidas, despachamos repórteres e fotógrafos para as ruas.
Na quarta-feira, começamos a desenhar a primeira página. Diego Araujo, editor de capa de ZH, Rafael Ocaña, editor da Diagramação, Raquel Saliba, editora de Imagem, e eu elaboramos o primeiro esboço:
– Manchete sobre a influência dos militares que ocupam postos estratégicos no governo Bolsonaro, de Humberto Trezzi e Fábio Schaffner.
– Foto de capa sobre as lagoas do Litoral, de autoria de Jefferson Botega.
– Chamadas secundárias: o mistério de um assassinato em Anta Gorda, o crescimento da indústria gaúcha.
Com as escolhas feitas e a capa desenhada, disparamos e-mail para uma dezena de editores, entre eles a diretora de Redação, Marta Gleich, e o gerente de Jornais, Nilson Vargas, com o objetivo de debater as palavras escolhidas, a foto valorizada, a relevância das apostas. No final da noite de quinta, após as últimas discussões, estávamos com a capa encaminhada. Mas os fatos, sempre eles, teimam em sacudir as nossas rotinas. E, antes dos primeiros raios de sol de sexta-feira, o planejamento da semana era desfeito. Um incêndio no Ninho do Urubu, centro de treinamentos do Flamengo, no Rio, matava 10 jovens promessas do futebol e enlutava o mundo esportivo. O assunto seria a foto principal do jornal. Enquanto repensávamos a capa, uma extensa cobertura era produzida, com destaque para o perfil das vítimas e a situação dos alojamentos das categorias de base de Grêmio (Eldorado do Sul) e Inter (Alvorada).
Jornalismo se faz, nesta Redação e em qualquer outra do mundo, com muito planejamento – e com muita ação para derrubar tudo o que estava planejado, se as notícias, que não têm hora para ocorrer, se impuserem.