Está cada vez mais evidente o envolvimento de Jair Bolsonaro na venda ilegal das joias recebidas de presente da Arábia Saudita pelo governo brasileiro. A Polícia Federal diz que o ex-presidente não apenas sabia do leilão das peças, como autorizou a realização da hasta. A investigação aponta ainda que o dinheiro obtido – cerca de R$ 6,8 milhões – foi incorporado ao patrimônio pessoal dele e teria sido usado para bancar suas despesas nos três meses de permanência nos Estados Unidos no começo de 2023. Diante dos fatos apurados, Bolsonaro foi indiciado por três crimes: peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. No entanto, apesar de todas as evidências, os aliados do capitão não se convencem e, mais uma vez, “passam pano” em seu socorro. Para eles, Bolsonaro é um homem correto, que está sendo vítima de perseguição em cima de perseguição.
Essa defesa ferrenha não é novidade. Já foi repetidamente vista no lado petista, onde nunca faltam argumentos para justificar os deslizes de Lula. Mesmo quando o líder maior claramente erra, a claque se levanta para protegê-lo. Nessas horas, até a mais procedente das críticas é rotulada injusta e mal-intencionada.
Aliados dos dois políticos parecem viver em mundos à parte
No caso mais polêmico, a Lava-Jato, o lulismo disseminou a versão de que o atual presidente foi absolvido de todas as acusações, o que não corresponde à verdade. Lula não foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Ele apenas teve os processos anulados por conta de uma formalidade jurídica: a 13ª Vara da Justiça Federal não teria competência para julgar as denúncias porque elas não estavam relacionadas a desvios de recursos na Petrobras, alvo dos processos em andamento no foro federal de Curitiba.
O fato é que, cada um do seu jeito, os aliados de Lula e Bolsonaro parecem viver em mundos à parte, nos quais o que menos conta é a realidade. Tanta devoção reforça a capacidade de liderança dos dois políticos, mas não é positiva para o país. Enquanto houver polarização em torno de nomes, com o brasileiro na busca permanente por um salvador da pátria, não iremos evoluir como nação. Temos que mudar o foco do debate político. O que precisamos é discutir ideias, propostas e projetos capazes de tornar o Brasil um país mais humano, igualitário e justo. Caso contrário, vamos seguir marcando passo, oscilando entre Lula e Bolsonaro, como se um fosse o antídoto para o outro.