A ginástica artística do Brasil fez história mais uma vez. O bronze por equipes nos Jogos Olímpicos de Paris é de todas as atletas que ao longo dos anos foram desenvolvendo a modalidade, assim como de todos os treinadores, que foram trabalhando e descobrindo talentos. Aliás, somos um país de muito potencial.
Mas o bronze desta terça teve dois nomes que gostaria de destacar: Rebeca Andrade e Jade Barbosa, que são o fenômeno, experiência e equilíbrio num mesmo time.
"Não é exagero colocar Rebeca Andrade entre os maiores esportistas de todos os tempos" foi o título da coluna de 9 de outubro de 2023, onde tentei abordar "o tamanho dela na história do esporte brasileiro". E essa não é uma tarefa simples, porque gênios do esporte, os chamados fora de série, são difíceis de descrever. A cada apresentação ou torneio eles nos surpreendem com novos feitos, novas marcas. Superar o que é limite para os comuns, para estes atletas é algo corriqueiro.
E por isso, "Não é exagero colocar Rebeca Andrade no patamar dos maiores esportistas de todos os tempos". Na ginástica, ele é uma das únicas 12 atletas a conquistar medalhas nos quatro aparelhos (solo, salto, barras paralelas assimétricas e trave) na história dos mundiais, sem falar nas conquistas dos Jogos Olímpicos.
De novata sensação em 2006 a atleta mais experiente de uma equipe que hoje é uma das melhores do mundo, assim pode ser resumida a trajetória de Jade Barbosa. Aos 33 anos, a ginasta que encantou o Brasil nos Jogos Pan-Americanos do Rio, um ano após surgir para o estrelato, é hoje uma atleta madura e acima de tudo ciente do seu tamanho para a modalidade.
E uma coisa que impressiona é a resiliência de Jade Barbosa, que já foi a primeira brasileira a ganhar duas medalhas individuais em campeonatos mundiais, enfrentou uma lesão grave e irreversível que carrega no punho direito – necrose no osso capitato, que poderia ter interrompido sua carreira, logo depois de sua primeira Olimpíada, em Pequim.
Jade ainda enfrentou afastamento da seleção e voltou para liderar uma geração e quando as provações para a menina, que se transformou em mulher dentro da ginástica pareciam estar encerradas, mais pedras apareceram no caminho. Uma torção no joelho esquerdo a fez perder o Pan de Lima em 2019. E mesmo o adiamento dos Jogos de Tóquio de 2020 para 2021, após mais uma lesão, novamente no joelho esquerdo, a tirou de mais uma Olimpíada.
Só que Jade Barbosa precisou superar muito mais do que lesões para chegar ao estrelato e ser uma das maiores ginastas da história. Aos 9 anos, um aneurisma tirou a vida de sua mãe. E ao lado do pai e do irmão Pedro seguiu sua jornada. Por isso, ver Jade brilhando ao lado de atletas que são bem mais jovens é algo que merece ser saudado tanto quanto sua resistência em sobreviver em um mundo que a julgou pelo choro nos fracassos, o que é inerente ao esporte, que a idolatrou pela presença em redes sociais, mas que pouco a aplaudiu pela força que mostrou para superar barreiras bem maiores que as impostas pelos quatro aparelhos da ginástica.