De novata sensação em 2006 a atleta mais experiente de uma equipe que hoje é uma das melhores do mundo, assim pode ser resumida a trajetória de Jade Barbosa. Aos 32 anos, a ginasta que encantou o Brasil nos Jogos Pan-Americanos do Rio, um ano após surgir para o estrelato, é hoje uma atleta madura e acima de tudo ciente do seu tamanho para a modalidade.
E uma palavra que pode definir isso é resiliência. Jade já foi a primeira brasileira a ganhar duas medalhas individuais em campeonatos mundiais (bronze no individual geral em 2007 e no salto em 2010). Entre essas duas conquistas, enfrentou uma lesão grave e irreversível que carrega no punho direito-necrose no osso capitato, que poderia ter interrompido sua carreira, logo depois de sua primeira Olimpíada, em Pequim, quando se classificou para três finais.
A lesão a colocou no meio de uma grande polêmica, após seu pai (César Barbosa) declarar que Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) "cometia maus tratos e negligência no tratamento de lesões", o que faria as atletas competirem sem as melhores condições. Após a repercussão, ela ficou dois anos sem fazer parte da seleção brasileira e quando voltou em 2011 um novo fato ocorreu que a deixou fora dos Jogos de Londres no ano seguinte. Jade não concordava cos termos de uso de uniformes e das marcas dos patrocinadores e acabou cortada.
Mas Jade superou mais esse obstáculo e quando os Jogos Olímpicos vieram para sua casa, no Rio de Janeiro, lá estava ela competindo nos quatro aparelhos e ajudando o Brasil a terminar entre as oito finalistas no concurso por equipes.
E quando as provações para a menina, que se transformou em mulher dentro da ginástica pareciam estar encerradas, mais pedras apareceram no caminho. Uma torção no joelho esquerdo a fez perder o Pan de Lima em 2019. E mesmo o adiamento dos Jogos de Tóquio de 2020 para 2021, após mais uma lesão, novamente no joelho esquerdo, a tirou de mais uma Olimpíada.
Só que Jade Barbosa precisou superar muito mais do que lesões para chegar ao estrelato e ser uma das maiores ginastas da história. Aos 9 anos, um aneurisma tirou a vida de sua mãe . E ao lado do pai e do irmão Pedro seguiu sua jornada. Por isso, ver Jade brilhando ao lado de atletas que são bem mais jovens é algo que merece ser saudado tanto quanto sua resistência em sobreviver em um mundo que a julgou pelo choro nos fracassos, o que é inerente ao esporte, que a idolatrou pela presença em redes sociais, mas que pouco a aplaudiu pela força que mostrou para superar barreiras bem maiores que as impostas pelos quatro aparelhos da ginástica.
Que Jade siga brilhando e inspirando novas gerações como faz com a atual, que acaba de se classificar para Paris em 2024.