A 30 dias da abertura da Olimpíada, ZH dá a largada para série especial que retrata grandes atletas do Brasil e do Exterior. Nesta quarta (26), conheça mais sobre a trajetória de Rebeca Andrade.
A coreografia de Rebeca Andrade em sua apresentação no solo tem como tema uma mistura entre as músicas "Movimento da Sanfoninha", de Anitta, e de "End of Time", de Beyoncé. A letra da cantora norte-americana diz "Let me shine in your world" ("Deixe-me brilhar no seu mundo", na tradução). O que combina com a ginasta, uma das maiores atletas do Brasil mesmo com apenas 25 anos. A prova de sua magnitude se evidenciou no Mundial da Antuérpia, no ano passado, em momento que se eternizou na memória do esporte.
Em 2023, Simone Biles, dona de 30 medalhas em mundiais e sete olímpicas, simulou passar uma coroa da sua cabeça para a de Rebeca. Não à toa, a paulista de Guarulhos foi a principal adversária da norte-americana no último ciclo olímpico. Rebeca conquistou cinco medalhas na maior competição antes da Olimpíada — uma de ouro, três de prata e uma de bronze.
Foi uma longa e dura trajetória a de Rebeca até o brilho no mundo da ginástica. A jornada começou aos quatro anos de idade, em um projeto social da prefeitura da segunda maior cidade de São Paulo, em uma favela nos arredores da capital.
A pequenina ginasta foi criada pela mãe, Rosa, que sozinha cuidou de oito filhos e trabalhou como faxineira para pagar pelo treinamento da filha. O irmão mais velho, Emerson, era o responsável por levá-la até os treinos — um trajeto com duas horas de caminhada. Depois, uma bicicleta encurtou o tempo de deslocamento. O trabalho e a dedicação a levaram ao Rio de Janeiro e ao Flamengo, onde treina até hoje.
Foi aos 13 anos que Rebeca começou a chamar a atenção do Brasil na ginástica. Venceu o Troféu Brasil, em competição contra Daniele Hypolito e Jade Barbosa, nomes naquela época já consagrados na modalidade. A segunda, inclusive, continua como colega de Rebeca na seleção brasileira.
Aos 16, Rebeca sofreu uma sequência de lesões que poderia ter acabado com a sua carreira. Foram três rupturas de ligamentos do joelho, praticamente uma atrás da outra. Em 2015, teve sua primeira lesão no ligamento cruzado anterior (LCA), perdendo o Mundial daquele ano.
Em 2017, surgia novamente como grande promessa para conquistar medalha na competição, mas sofreu uma segunda lesão no LCA em Montreal, forçando-a a desistir da participação. No ano seguinte, apesar de estar em recuperação, voltou às competições. No entanto, sua jornada enfrentou outro revés: sofreu uma terceira lesão no LCA do mesmo joelho na rotina de solo.
Apesar de necessitar de cirurgias reconstrutivas nas três ocasiões, nunca desistiu do sonho. E a espera e resiliência de Rebeca deram resultado nos Jogos Olímpicos de Tóquio, quando, saudável, correspondeu às expectativas criadas com apenas 13 anos naquele Troféu Brasil.
Rebeca fez história ao conquistar a medalha de ouro no salto e garantir a prata no individual geral, que consagra as ginastas mais completas. Se tornou a primeira brasileira a colocar no peito uma medalha em Jogos Olímpicos na modalidade. A partir daí, só alegrias. Além das medalhas na Antuérpia no ano passado, conquistou também um ouro e uma prata no Mundial de 2021 e, no ano seguinte, outro ouro e um bronze.
Se existe alguém que desembarca em Paris com status de estrela na delegação brasileira é Rebeca. Os resultados recentes mostram que ela chega na França como favorita a cinco pódios (salto sobre a mesa, solo, trave, barras assimétricas e individual geral), além de ser candidata em outra prova (por equipes). Só que Rebeca tem uma característica única que talvez seja o motivo para tanto sucesso: a tranquilidade. Pressão? Nenhuma.
— Não posso prometer medalha. Não posso prometer pódio. Só posso prometer o que está ao meu alcance, que é fazer o meu melhor, dar o meu máximo e representar bem o meu país e todos que torcem por ele — disse à Forbes Brasil.
Resta, agora, que Rebeca faça em Paris o que sabe fazer de melhor: brilhar no seu mundo.