A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da República trouxe ao esporte brasileiro algumas memórias recentes. Foi sob seu governo e de sua sucessora, Dilma Roussef, que os maiores investimentos na área foram feitos. E neste quesito não se fala apenas nas competições que foram trazidas para o Brasil, como os Jogos Pan-Americanos de 2007, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, mas também políticas de incentivo e fomento.
Nos governos petistas, foram criados o Bolsa Atleta, programa de remuneração mensal para atletas de alto rendimento; a Lei de Incentivo ao Esporte, que propicia recursos para projetos esportivos através da renúncia fiscal; o Projeto Atletas de Alto Rendimento, uma parceria entre o Ministério da Defesa e o do Esporte, com os esportistas tendo direito a salários, assistências médica e possibilidade de treinar em instalações militares e que foi responsável pela presença de 92 atletas na delegação brasileira nos Jogos Olímpicos de Tóquio; o Projeto Forças no Esporte, no qual crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade eram selecionadas por unidades militares para serem iniciadas no esporte no período inverso ao das aulas nas escolas
Todos estes programas perderam força nos últimos anos e, por exemplo, o Bolsa Atleta, não tem um reajuste desde 2015 e teve de cortar beneficiados. No ciclo olímpico da Rio-2016, foram pagos R$ 641,1 milhões em bolsa. De 2017 a 2021, para o ciclo de Tóquio-2020, o valor caiu para R$ 530,4 milhões. E a partir de 2020, para o novo ciclo, sequer foi lançado edital pela União. Além disso, no governo de Jair Bolsonaro, o Esporte perdeu o status de ministério, que detinha desde 1995, e passou a ser uma secretaria nacional, incorporada ao Ministério da Cidadania.
Plano de Governo e a volta do Ministério do Esporte
Mas o que diz o Plano de Governo do recém-eleito Lula para o esporte ? Não há nada muito específico no documento que foi entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O que está ali fala na "democratização e descentralização do acesso ao esporte e ao lazer promovem desenvolvimento, combatem à violência e constroem a cidadania. Propomos políticas universais de garantia dos direitos ao esporte e ao lazer, de acordo com a Constituição Federal de 1988. O fomento ao esporte e ao lazer será reinserido na agenda nacional, incentivando a atividade esportiva nas suas várias dimensões".
Em encontro realizado em São Paulo, antes do primeiro turno das eleições, Lula se reuniu com diversos atletas, ex-atletas, jornalistas, profissionais e dirigentes esportivos e alguns aspectos foram colocados.
— É preciso fazer uma revolução na arquitetura brasileira. É um monte de concreto, vertical, com uma quadra sem rede. Precisamos começar a mudar o conceito das nossas escolas, como instrumento de multidisciplinaridade. Precisamos mudar as nossas escolas e a cabeça dos nossos prefeitos. O problema é quando vai fazer o orçamento da estrutura. Tem de mudar o conceito de gastos para investimentos — disse Lula durante o evento, apontando para a criação de um novo modelo escolar para a implementação da iniciação esportiva.
A recriação do Ministério do Esporte não está definida, mas durante o encontro que debateu políticas para a área estavam presentes os ex-ministros da pasta durante os governos Lula e Dilma, Agnelo Queiroz, Orlando Silva, George Hilton e Ricardo Leyser, além de nomes como dos ex-presidentes do Corinthians, Adílson Monteiro Alves e Andrés Sanchez, e Luiz Gonzaga Belluzzo, do Palmeiras, e o técnico Vanderlei Luxemburgo, que chegou a se lançar pré-candidato ao Senado por Tocantins, pelo PSB, partido ao qual é filiado. Entidades ligadas ao esporte aproveitaram a oportunidade para pedir o retorno deste status.
É preciso que o Estado e os entes federados entrem em acordo na mudança de padrão para que possamos acreditar na prática do esporte"
LULA
Presidente eleito do Brasil sobre políticas para o esporte
—Não sou especialista em nada e tenho vontade de fazer tudo. É o momento que vocês nos digam o que devemos fazer. É preciso que o Estado e os entes federados entrem em acordo na mudança de padrão para que possamos acreditar na prática do esporte — afirmou o então candidato e agora presidente eleito.
Segundo o PT, o objetivo é recuperar o legado das políticas aplicadas para o esporte nos governos Lula e Dilma e sinalizar o futuro tendo o esporte como educação, inclusão, de estímulo a talentos e como instrumento de desenvolvimento econômico.
Sistema Único do Esporte
No debate promovido no final de setembro, Edinho Silva, coordenador de comunicação da campanha de Lula, falou sobre um dos pilares do plano para o esporte.
— O avanço do esporte no Brasil só se dará se criarmos um Sistema Único de Gestão, modelo semelhante ao da Saúde, da Educação e da Assistência, estabelecendo a atribuição de cada ente federado, fazendo com que o esporte se torne uma política de fato do Estado brasileiro.
E é aqui que entra a criação do Sistema Único do Esporte, definindo o papel da União, Estados, Municípios e das entidades esportivas na oferta de políticas de esporte em um modelo próximo ao que ocorre com o Sistema Único de Saúde (SUS) para assegurar a participação e controle social e a otimização dos recursos públicos.
Outro objetivo é a melhoria da gestão do esporte brasileiro e o futuro governo projeta implementar a Universidade do Esporte, visando à formação de profissionais voltados para toda a cadeia produtiva do esporte.
A partir de agora reina expectativa na comunidade esportiva para que estes projetos sejam implementados e àqueles que derem resultados sejam mantidos, para que o esporte volte a ser protagonista. Afinal, ele pode oferecer educação e segurança.