A notícia da aposentadoria de Bruno Soares surpreendeu a todos. Após a eliminação na segunda rodada da chave de duplas do Aberto dos Estados Unidos, na última sexta-feira (2), em dois tiebreks contra Hugo Nys, de Mônaco, e o polonês Jan Zielinski, o mineiro deu um longo abraço em seu parceiro Jamie Murray, um dos poucos que já sabia da decisão tomada 15 dias antes.
Com mais de duas décadas no circuito profissional, o mineiro de 40 anos decidiu pendurar a raquete e a partir de agora irá se dedicar à família e aos negócios de sua empresa, a MadFish, um veículo de investimento dele e dos treinadores Hugo Daibert e Maisa Feital. Antes de viajar para um período de férias, Bruno conversou com a coluna e falou sobre aposentadoria, carreira, títulos e futuro.
A decisão da aposentadoria pegou a todos de surpresa. Quando você definiu que seria no US Open?
Já estava decidido que eu iria parar esse ano. Eu tinha tomado a decisão no começo da temporada, mas eu não queria fazer planos, programar último evento, preferia deixar rolar e a decisão de me aposentar no US Open foi tomada após o Masters de Cincinnati.
Nova York porque foi lá que você ganhou quatro títulos?Eu queria terminar em Nova York, no meu Grand Slam favorito, numa cidade que eu sou apaixonado, num torneio que sou apaixonado, e achei que era o momento certo, mas não queria fazer um anúncio para que virasse o foco. Apenas amigos e a família sabiam dessa decisão, mas ela foi pensada nos últimos dois anos.
E como está começando a vida de aposentado?
Agora é uma transição um pouco drástica, a rotina muda completamente. A parte boa dessa mudança e da aposentadoria é dar sequência aos meus negócios, vou ter oportunidade de passar mais tempo com os filhos, com a família, algo que nunca tive muito tempo. Agora é descansar, desconectar um pouco e com calma ir pensando nos próximos passos e com certeza vou querer estar envolvido com o tênis.
Isso significa que você ainda viverá o dia a dia do tênis?
Dentro da nossa empresa temos a Fly, que é o braço de tênis nosso, que cresceu nos últimos anos e tem um projeto muito legal, e eu quero estar mais perto, mais envolvido. O tênis faz parte da minha vida desde os 5 anos de idade, é meu DNA, está no meu sangue e com certeza quero contribuir o máximo possível onde eu puder ajudar.
E qual dos seis títulos de Grand Slam foi o mais importante ?
É difícil falar qual título, qual Grand Slam foi mais especial. Mas o primeiro tem um impacto mental, psicológico, mais forte. Foi mais surreal, no sentido de "caramba, isso aconteceu!". Mas todos tem uma emoção forte. É o ápice do nosso esporte, é algo bastante forte a emoção de conseguir aquele feito. Eu me sinto privilegiado de ter jogado 10 finais de Grand Slam e conquistado seis títulos.
O Jamie Murray foi teu melhor parceiro? Foi com ele que seu jogo se encaixou melhor ?
Em termos de resultado foi. Mas não dá pra descartar Alexander Peya e Mate Pavic. Apesar de eu ter jogado pouco tempo com o Mate, a gente conquistou grandes coisas em um período curto de tempo. Com o Alex foi uma parceria supervitoriosa, que infelizmente nós batemos na trave nos Grand Slams, numa época em que os Bryan dominavam o circuito e nós apanhamos muito deles. Foram os meus três parceiros mais vitoriosos. Mas claro que o Jamie teve impacto muito grande, pelas conquistas e tudo que representou.
E qual foi teu principal legado para o esporte ?
O maior legado que eu deixei foi fazer as pessoas acreditarem que é possível, mais um aqui do Brasil a conquistar várias coisas, conquistar o mundo. Fazer as pessoas verem que é possível estar nesse ambiente supercompetitivo de uma forma leve, tranquila, sorridente. Eu acho que esse é meu maior legado. Eu sempre tive muito cuidado com a parte humana do processo. Isso pra mim sempre foi importante. Acho que esse é o legado que eu deixo pras pessoas, a parte humana acima de tudo.
Você ganhou 35 títulos em 69 finais no circuito, incluindo os Grand Slams. Ficou faltando algo? Seria a medalha olímpica?
É até um pouco injusto falar que ficou faltando alguma coisa. Mas se pudesse agregar com certeza seria a medalha olímpica. Eu e Marcelão batemos na trave duas vezes e infelizmente, na última, eu não tive condição de competir por causa da apendicite. Mas acho que não. É olhar para trás com muito orgulho. Foi uma missão totalmente cumprida. Fui privilegiado de poder ter vivido meu sonho diariamente por 22 anos.
Você é embaixador do projeto WimBelemdon, aqui em Porto Alegre. Como você pretende seguir apoiando este tipo de iniciativa ?
Esse tipo de projeto é superimportante. Eu diria fundamental para várias coisas. Primeiro para transformar o ser humano, causar impacto na sociedade acima de tudo. A gente ter a oportunidade e a capacidade de fazer isso através do tênis é muito bacana. Eu sou embaixador do WimBelemDon há muito tempo, sou muito fã do Marcelão (Marcelo Ruschel) e da Lu (Luciane Barcelos) e acompanhei de longe o esforço deles no projeto. Quando tive a oportunidade de conhecer de perto, me encantei e nunca mais desgrudei, é muito bacana. Vou estar perto e tentar contribuir com o máximo que eu conseguir. Eles sabem que sou aberto a isso, solícito e onde eu puder ajudar, vou tentar fazer. Nós temos uma missão de impactar e transformar e o tênis é uma plataforma muito forte pra gente transformar a sociedade.
Confira números da carreira de Bruno Soares:
Títulos - 35
Finais disputadas - 69
Jogos - 869
Vitórias - 545
Derrotas - 324
Premiação - US$ 6.930.924
Melhor posição no ranking - 2º em outubro de 2016
Em Grand Slam:
Títulos - 6 (3 em duplas e 3 em duplas mistas)
Finais - 10 ( 6 em duplas e 4 em duplas mistas)