O Brasil se caracteriza por formar grandes atletas e também por ter grandes treinadores. No futebol, nomes como Zagallo, Carlos Alberto Parreira, Telê Santana e Luiz Felipe Scolari sempre são citados, assim como Larri Passos (tênis), Luiz Alberto de Oliveira (atletismo), Ary Vidal (basquete), entre tantos outros.
Nesta lista, destaque para o vôlei, que teve Bebeto de Freitas, responsável por liderar a Geração de Prata, vice-campeã mundial em 1982 e olímpica em 1984. Aliás, daquele time dois grandes treinadores surgiram para a modalidade, Bernardinho e Renan Dal Zotto.
Bernardinho talvez seja o nome mais lembrado quando se fala de conquistas. Afinal, ele coleciona seis medalhas olímpicas como técnico, duas de ouro e duas de prata, com a seleção masculina, e mais duas de bronze com a seleção feminina, além de ter levado os homens a um inédito tricampeonato mundial e as mulheres a um então inédito vice mundial em 1994.
Mas antes do carioca, que hoje tem 62 anos, brilhar, um contemporâneo de quadra como jogador e até de posição, a de levantador, também fez história. Em 1992, José Roberto Guimarães levou o Brasil à sua primeira medalha olímpica de ouro, com um time formado por jovens como Marcelo Negrão, Tande, Maurício e Giovane. No ano seguinte, ganhou o primeiro título da Liga Mundial, que hoje em dia é chamada de Liga das Nações.
Em 2003, Zé Roberto assumiu a seleção feminina e passou a colecionar títulos, com destaque para o bicampeonato olímpico (Pequim-2008 e Londres-2012), que o tornou o único técnico tricampeão na modalidade e a ganhar tanto com os homens quanto com as mulheres. Quem o conhece sabe o quão discreto e dedicado é o paulista que completará 68 anos no próximo dia 31 de julho, mas que é capaz de transformar e construir equipes.
Claro que apontar que A é melhor que B, é algo que depende de critérios e subjetividades. Mas acredito ser possível afirmar que José Roberto Guimarães é o maior em grau de importância. Afinal, além de ter sido o primeiro a dirigir as equipes masculina e feminina campeãs olímpicas, ele é um grande formador.
Para se ter ideia, o Brasil chegou aos Jogos Olímpicos de Tóquio fora da lista de favoritos e voltou do Japão com uma medalha de prata. Na atual Liga das Nações, que tem sua fase final sendo disputada na Turquia, a seleção está nas semifinais e enfrentará a Sérvia, atual campeão do mundo.
O time que está em Ankara é absolutamente renovado em relação à geração vencedora. Das 20 convocadas para a Liga das Nações, 13 têm 25 anos ou menos, enquanto apenas quatro - as levantadoras Macris e Roberta, a central Carol e a ponteira Pri Daroit - têm mais de 30 anos.
Zé Roberto tem esse gosto pela formação, tanto que grande parte da atual seleção já trabalhou com ele em seu projeto em Barueri, onde, apesar de todas as dificuldades de patrocínio para manter uma equipe na Superliga, ele tem conseguido formar jogadoras que seguirão na próxima década mantendo o alto nível do voleibol brasileiro.
Em março, em Salvador, acompanhei uma palesta dele no Congresso Olímpico Brasileiro e ele falou muito sobre esse processo de formar vencedores. E pelas conquistas, pelo trabalho de formação e longevidade no cargo, é possível dizer que ele é o maior técnico da história do esporte do Brasil, sem desmerecer os trabalhos feitos por todos os outros.