O dia era de duas mulheres incríveis. Saí do hotel a andar por uma Paris muito quente já de manhã cedinho com esse pensamento a me acompanhar. Uma judoca, uma ginasta.
Duas lutadoras. Na manhã da França, madrugada do Brasil, Mayra Aguiar no tatame da Arena do Campo de Marte. Na noite de Paris tarde do Brasil, Rebeca Andrade no tablado da Bercy Arena. Entre elas, toda a inspiração a qualquer outra mulher que tenha acompanhado as trajetórias dessas duas nos Jogos.
Aos pés da Torre Eiffel, uma Mayra que passou toda a reta final de preparação do ciclo olímpico isolada, sem dar entrevistas, finalmente aparecia para o mundo. Torcedores, jornalistas, companheiros de treinos viviam a expectativa de qual atleta veriam em ação.
Desde o primeiro minuto de luta, a mesma Mayra, combativa, a que todos estavam acostumados, apareceu. Mas do outro lado havia a número um do mundo e, na quinta Olimpíada, veio a eliminação.
Na principal Arena da Olimpíada, a badalada Rebeca Andrade era ovacionada pela torcida toda vez que surgia com seu colant amarelo. A ginasta das redes sociais, a garota propaganda, a menina das dancinhas, somava a toda essa midiatização a pressão por medalhas nessa Olimpíada.
Como adversária, a maior atleta em atividade no mundo, Simone Biles. E Rebeca foi Rebeca. Com a gentileza e a suavidade habitual, foi multi, e de aparelho em aparelho somou as notas necessárias para ficar na segunda posição e conquistar a prata histórica.
Rebeca e Mayra. Mayra e Rebeca. Uma eliminada. Uma medalhada. As duas, lutadoras. Após assisti-las e ouvi-las, termino um histórico dia olímpico me enxergando nelas. Quantas vezes quis, como Mayra, ficar no casulo para curar minhas feridas? Quantas vezes, como Rebeca, precisei ser "multi", dar conta de tudo ao mesmo tempo e ainda manter o sorriso no rosto? Somos todas Mayra. E somos todas Rebeca.
Todos os dias somos eliminadas e subimos no pódio da vida. Rebeca tornou-se hoje a maior medalhista mulher do Brasil na história, superando, adivinhem quem? Justamente Mayra.
Mas no esporte, na vida, aqui nesse texto, não cabem comparações, não cabe competição. Somos melhores juntas. Mayra e Rebeca inspiram o melhor em mim, e por isso, hoje eu só quero exaltar essas duas mulheres. Viva Mayra. Viva Rebeca.