A Helena mora com a família na Suíça e veio acompanhar os Jogos Olímpicos, na companhia da mãe. Não conseguiram ingressos para a ginástica, mas esperaram pacientemente do lado de fora da Bercy Arena por horas para tentar ver a atleta mais vencedora da história olímpica do Brasil: “Rebeeecaaaa”.
Era assim que gritava Helena, oito anos, grudada no gradil junto à saída dos ginastas. No grupo de cerca de quinze pessoas que ali se aglomeravam, também se ouvia o nome da brasileira com outros sotaques.
Uma espanhola elogiava, e uma menina toda vestida de estátua da liberdade falava do quanto tinha ficado feliz pelo ouro de Rebeca no solo, superando justamente a principal atleta do seu país de origem, e a maior de todos os tempos na modalidade, Simone Biles.
O maior embate da ginástica artística na atualidade também estava nas bochechas de uma torcedora francesinha antes das disputas começarem. Uma bochecha com a bandeira da França e outra com a do Brasil. Nas mãos, carregava uma sacola de presente recheada com quatorze unidades de “pan au chocolat”, um doce típico francês que, segundo ela, é o preferido de Biles.
Não havia uma lembrancinha trazida para Rebeca, mas quando perguntei sobre a preferência ela respondeu:
— Gosto das duas igualmente e acredito que a emoção está em vê-las competindo — Foi quase uma premonição.
Quem adivinharia no começo desta segunda-feira (5) que Biles iria se desequilibrar e cair na apresentação na trave. E que, depois disso, uma nota baixa duvidosa, não colocaria Andrade sequer no pódio.
Quem imaginaria que no solo, o melhor aparelho da melhor de todos os tempos, Simone, seria Rebeca quem brilharia mais, a ponto de conseguir o ouro e deixá-la na segunda posição. Quem poderia supor que a imbatível seria batida?
Não havia ninguém mais para conseguir isso, senão Rebeca Andrade. Estava nas bochechas da mini torcedora francesa e em algum lugar do nosso coração, onde ousávamos ter esperança.
Foi com esperança que Helena esperou do lado de fora. E mesmo quando todas as atletas já tinham saído, ao ver uma van, ela correu para alcançar. Gritou, de novo, mas dessa vez com destino certo: Rebeeecaaaa!
De dentro do carro, a dona do ouro ouviu e saiu para dar um esperado autógrafo, fazendo jus à fala que fez na saída da arena, no microfone da Rádio Gaúcha.
— Eu cumpri o meu papel, estou aqui pra incentivar e inspirar como atleta e como ser humano — disse com a medalha no peito.
E completou:
— O esporte muda vidas, a ginástica mudou a minha.
Para fazer a diferença para milhões que viram essa conquista ou só da Helena, que tanto queria ver Rebeca.