A Bercy Arena, antes palco da ginástica artística, que viu Rebeca Andrade brilhar com ouro em sua última disputa, recebeu nesta terça-feira (6) as quartas de final do basquete. E tinha o Brasil na disputa de novo. Contra os Estados Unidos de novo. Só que, se é que a comparação é possível, o desafio do time comandado pelo Marcelinho Huertas era ainda maior do que o de Rebeca contra Simone Biles. E eu poderia falar disso aqui com vocês.
Poderia contar do encantamento de ver Stephen Curry e Lebron James em quadra. Poderia contar do meu orgulho de acompanhar a valentia do time brasileiro, focado, concentrado, fazendo frente. Mas vou fazer o relato vai ser de um encontro que aconteceu ainda do lado de fora.
Duas crianças jogavam basquete na porta de um prédio vizinho. Estavam juntos, mas separados, cada um com sua própria bola. Parei naquela cena. Observei de longe uma voluntária se aproximar e pintar as bochechinhas deles com as cores da França, que inclusive estava com seu time em quadra lá dentro enquanto eles batiam bola na calçada.
Mas os dois pequenos pareciam nem saber disso. Aliás, eles pareciam saber muito pouco do jogo que brincavam de jogar. Como não falo francês, mesmo usando toda minha habilidade em mímica, não descobri muito mais sobre a história da duplinha. Mas decidi trazer os dois para este espaço para te provocar e te perguntar: o que o esporte pode gerar?
Começo respondendo daqui enquanto vocês pensam daí. O esporte gera diversão. O esporte gera oportunidade de desenvolvimento cidadão, de inserção social. O esporte é algo por que se apaixonar. O esporte gera a capacidade de aprender a perder e recomeçar. O esporte gera aquela emoção impulsionadora que faz com que duas crianças pratiquem genuinamente desavisadas um esporte que nem é tão tradicional na cidade onde moram pelo simples impulso da brincadeira. Que o esporte gere muito mais em nós. Para muito além dos Jogos Olímpicos.
Futebol feminino
Quando vamos mudar o disco? Essa provocação super pertinente foi feita pela minha colega Heloise Bordin. Em um vídeo, publicado ainda antes da Olimpíada, ela questionava até quando, para falar de futebol feminino, seguiríamos trazendo Marta, Formiga e Cristiane.
A primeira em sua última olimpíada, a segunda aposentada e a terceira que deve parar em breve. Meu pensamento me levava às perguntas da Helô enquanto via a seleção brasileira golear a Espanha, atual campeã do mundo, na semifinal olímpica.
Precisamos de novas referências na modalidade. E ali estavam elas, bem na minha frente, conseguindo uma vitória incrível sem a presença da Marta.
Não porque ela não é importante, claro que não, mas porque temos outras grandes jogadoras para aprender a acompanhar e admirar.
Em sua reflexão, a Helô sugeria que os torcedores olhassem para as jogadoras do seu time do coração para começar. Eu complemento dizendo que essa Olimpíada é uma bela oportunidade de saber mais, viver, respeitar a história do futebol feminino do Brasil.
O disco já mudou. Tu não vai ficar ouvindo a mesma música pra sempre né?