A frase que dá título a esse texto está bordada em uma camiseta que ganhei de uma grande amiga quando soube do diagnóstico de câncer de mama, em janeiro de 2020. Sempre tão preocupada com os outros, eu estava sendo intimada por alguém que me ama a ter mais cuidado comigo mesma. O mergulho foi longo e profundo.
Durante todo o período intenso do tratamento estive imersa em mim, atenta a cada sinalzinho do corpo, analisando tudo que passava pela mente. Mas isso já faz quase dois anos, e nesse tempo fui voltando à superfície, esquecendo um pouco de mergulhar em mim. A segunda temporada de Caminhos para a Vitória tem sido um novo convite ao autocuidado. E essa metáfora do mergulho fez ainda mais sentido na última gravação que realizamos para o Globo Esporte.
A ideia era mostrar o momento pós-maratona que eu e o Lucianinho Périco estávamos vivendo. Com foco em recuperação, experimentamos técnicas modernas de fisioterapia no Centro de Reabilitação da PUCRS. Depois da luta na corrida, finalmente, a glória. Eu imaginava que seria algo relaxante, gostoso, mas não sabia exatamente o que me esperava. Massagem? Aparelhos?
— Temos uma piscina terapêutica — explicou o nosso super produtor Eduardo Rachelle.
— Essa vai ser minha. Quero experimentar —respondi, empolgada, na hora.
Sou completamente apaixonada pela água. Não consigo ir uma vez sequer à praia sem entrar no mar. Se tem piscina em qualquer lugar, lá vou eu dar um "tchibum". Não entendo muito de astrologia, mas sei que sou do signo de câncer, e que ele é regido pelo elemento água: fluidez, intuição, emoção são os sentimentos que movem os cancerianos. Foi uma mistura de tudo isso que senti no dia da gravação, e olha que o ambiente nem era dos mais favoráveis para isso.
Nossa equipe tem sempre pelo menos cinco pessoas: dois cinegrafistas, um sonoplasta, um auxiliar e o produtor. Acrescentem a esse time eu e o Lucianinho, mais os professores da PUCRS, o pessoal que está circulando pelo Parque Esportivo, algum entrevistado, e tenham como resultado uma grande e divertida bagunça. Mas, naquele dia, mesmo em meio a esse ambiente barulhento fiquei absolutamente alheia, como se estivesse em uma bolha de paz e tranquilidade.
Com as orelhas submersas na água, eu não ouvia o que acontecia do lado de fora.
— Preciso apenas que tu relaxes o corpo e deixe que eu te guie na água — convidou o fisioterapeuta e professor da faculdade de Fisioterapia da PUCRS, Pedro Deon.
Fechei os olhos e me deixei conduzir, flutuando de um lado pro outro. Experimentei um tratamento chamado Watsu, que funciona por mobilização passiva. Ou seja, eu não faço esforço pra me movimentar, o trabalho fica todo com quem aplica a técnica.
O Watsu garante alongamento muscular, liberação miofascial, mobilização articular e, principalmente, relaxamento. Segundo o professor Pedro, ajuda muito nas dores do corpo e também é utilizado para questões que envolvem a saúde mental, como ansiedade e até insônia, porque promove um relaxamento integral. Além dessa, existem muitas outras terapias super interessantes para os públicos mais diversos. Afinal, é preciso se exercitar, mas também é preciso recuperar, cuidar, descansar, relaxar.
O estado quase meditativo que atingi naquela sessão de fisioterapia na água me fez lembrar o mergulho mais importante, aquele em mim mesma. E vocês, têm mergulhado?