Uma calça com forro reforçado. Um top. Uma camiseta. Uma blusa térmica de manga longa. Um moletom. Um casaco corta vento. Uma faixa para tapar as orelhas. Uma meia comprida - para esconder aquele pedacinho de canela que possa querer ficar de fora. E, finalmente, o mesmo tênis de sempre. Todas as noites eu separo a roupa que vou usar no dia seguinte. A pilha de trajes em cima da cadeira no quarto tem aumentado de maneira inversamente proporcional à temperatura de Porto Alegre, que só cai.
O desafio de se manter praticando exercício físico com regularidade só aumenta no frio. O clima pede casa, cobertor, bolsa de água quente colada no corpo para esquentar. Certamente quando escreveu a canção Nem um dia, em que fala de "um dia frio, um bom lugar pra ler um livro", Djavan estava pensando em um cantinho confortável na frente da lareira e não das ruas frias da capital gaúcha.
Não gosto de reclamar. Não gosto de gente que reclama de tudo o tempo todo. Tá calor? Ruim. Tá frio? Ruim também. Então, escolho onde me permito sofrer. E, definitivamente, é nas baixas temperaturas. Suporto sem dor o solaço e aquele abafamento típico do nosso verão, mas não sei lidar com a umidade e o vento cortante do inverno. Fico de mau humor mesmo e não tenho vontade de fazer nada fora de casa.
Só que a missão do momento é me preparar para uma rústica, no primeiro grande desafio da segunda temporada de Caminhos para a Vitória. Aí me vejo obrigada a vestir cada uma das peças de roupa e encarar os treinos de corrida no frio mesmo. E vocês não vão acreditar no que tem acontecido. Tem sido bom. Mais do que isso, tem sido transformador.
Superada a preguiça, a sensação do calor no corpo trazida pelo movimento é gostosa demais. As muitas peças de roupa vão saindo aos poucos, conforme o corpo esquenta, e com elas vai ficando para trás também o ranço com o frio. O professor Diego Paixão, meu querido e competentíssimo treinador no Parque Esportivo da PUCRS, me explicou: "a liberação de hormônios como serotonina e endorfina melhoram o humor e promovem sensação de bem-estar, o que ajuda a encarar as baixas temperaturas". Está explicada a minha vivência tão positiva.
Segundo o Diego também, no frio o rendimento nas corridas melhora em comparação ao calor, por conta de termorregulação do corpo. Espero perceber isso na prática no próximo domingo, 12 de junho, quando encararei, junto com meu parceiro Lucianinho Périco, os quilômetros para os quais venho treinando durante todo esse mês. A previsão do tempo é de mínima de 4ºC. Mais ou menos o que devem marcar os termômetros justamente as 7h10min - horário da largada da prova.
Seguramente a adrenalina do momento, somada ao aprendizado recente de como pode ser bom fazer exercícios mesmo no frio, farão que com que seja um momento especial. A pilha de roupas já está sendo preparada. E esse coração, com aversão ao inverno, já está quentinho de expectativa.