No embalo farto das culturas de inverno, o Rio Grande do Sul se encaminha para colher este ano uma das maiores safras de canola da história. O otimismo pela produção farta vem do clima favorável e dos números até aqui. Segundo a Emater, a área plantada do grão cresceu 40,5% neste ciclo, cultivo que deve se reverter em 87,5 mil toneladas colhidas.
Confirmadas as projeções, a produção será 60% maior do que a de 2021.
— De forma generalista, temos uma ótima safra de inverno em todos os cultivos, incluindo a canola. A área estimada é a maior dos últimos anos, de 53,4 mil hectares, muito superior aos 38 mil hectares da última safra. É uma base baixa em relação a outras culturas, como a soja, mas de qualquer forma é relevante porque temos aumento em uma cultura que apresenta risco ainda maior porque é muito suscetível às oscilações climáticas — explica o assessor da diretoria técnica da Emater, Elder Dal Prá.
Presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Canola (Abrascanola), Vantuir Scarantti diz que o clima seco no início do ciclo não ajudou muito, mas que a chuva regular e o inverno prolongado subsequentes contribuíram para melhorar a produtividade.
— A colheita está se intensificando agora, em função do clima e do plantio um pouco mais longo que a atrasou, mas foi benéfico porque estamos tendo uma produtividade interessante entre 1,8 mil a 2,5 mil quilos por hectare. Se continuar assim, será um aumento sobre a safra anterior, que teve média de 1,5 mil quilos por hectare — antecipa Scarantti.
A percepção é a mesma de quem está direto no campo, colhendo a safra. A produção gaúcha de canola fica concentrada no noroeste do Estado e nas Missões, com as maiores áreas cultivadas.
O produtor Cristiano Roratto relata melhora nas suas plantações tardias, que não sofreram efeito de geada como as do início do ciclo. Ele cultiva 1,6 mil hectares de canola em propriedades localizadas em Santo Ângelo, Santo Antônio das Missões e São Borja. Com a recuperação da safra, espera uma média de 30 sacos colhidos por hectare.
Roratto é um dos muitos produtores gaúchos que voltaram a apostar na canola. Nos anos anteriores, dedicava cerca de 500 hectares à cultura, e no ano passado nem chegou a plantar. A aposta no grão este ano veio para compensar os prejuízos de uma safra de verão frustrada pela estiagem, além da valorização das culturas de inverno.
— Em virtude da seca da soja, não produzimos nada na região, foi uma colheita devastada. Partimos para a canola e para o trigo pelo preço e pela rotatividade — diz o produtor, que vende toda a sua colheita para a indústria.
A canola tem como principais destinos a fabricação de óleo comestível e de farelo para a ração animal. Mas também há a produção de biocombustível, mercado que vem crescendo nos últimos anos. O presidente da Abrascanola diz que a rentabilidade do grão e o fator financeiro têm sido os principais responsáveis pela expansão da cultura, que tem garantia de compra por parte da indústria.
No ano passado, o Brasil fez a sua primeira exportação de canola, tendo Dubai como destino. E há possibilidade de expandir para outros mercados, como a Rússia, um dos grandes fornecedores de óleo de canola no comércio mundial.
— Existe uma cadeia produtiva consolidada da canola, e isso dá segurança ao produtor — diz Dal Prá, da Emater, emendando que, “com certeza, essa é uma das maiores safras dos últimos anos”.