Da exposição de animais à consolidação da Expointer também como palco das discussões sobre os rumos do agronegócio nacional e feira que movimenta bilhões de reais em negócios a cada edição, o Parque Estadual de Exposições Assis Brasil, em Esteio, é protagonista nas mudanças verificadas no perfil do evento ao longo de cinco décadas.
Jornalista que pesquisa a história do parque e da Expointer, Thaise Teixeira considera a ampliação do espaço de 64 para 141 hectares, no final da década de 1990, um dos fatores decisivos para a exposição ter desenvolvido o perfil de feira multifacetada que o público reconhece hoje. A partir do aumento da área, o setor de máquinas agrícolas viu os negócios decolarem e a agricultura familiar passou a atrair milhares de visitantes com alimentos trazidos diretamente do campo.
— A ampliação permitiu que mais pessoas entrassem no parque, consolidou a participação do setor de máquinas, que entrou como participante ativo na construção de infraestrutura dentro do parque, e trouxe o agricultor familiar — descreve Thaise, que lançará em 2021 o livro Expointer: 50 anos de exposições de Esteio, em projeto da Editora Centaurus.
Hoje responsáveis por um dos espaços mais visitados na Expointer, as agroindústrias começaram a expor os produtos coloniais em 1999, a partir de decisão do governo Olívio Dutra, que optou por abrir a feira a novos públicos. Então presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Heitor Schuch recorda que a entrada dos pequenos agricultores enfrentou a resistência da Farsul, que na época travava com a Fetag fortes embates nas negociações salariais dos assalariados no campo.
— Os próprios agricultores tinham medo em participar, tínhamos que convencê-los a levar a produção para a feira. Vieram uns 30 e no primeiro final de semana venderam praticamente tudo — diz Schuch, constatando que a animosidade nos anos seguintes foi se desfazendo.
O espaço destinado à agricultura familiar foi se transformado nos anos seguintes. Em 2005, a atividade ganhou o próprio pavilhão. O interesse dos visitantes em queijos, salames, sucos, entre outros artigos, seguiu crescendo a cada edição e, em 2018, a estrutura dos pequenos produtores foi ampliada, passando a abrigar quase 300 expositores.
Presentes na feira desde a década de 1970, as máquinas agrícolas tinham uma participação secundária no evento até a ampliação do parque. Isso mudou no início dos anos 2000, quando os fabricantes passaram a explorar novos espaços dentro do parque, mexendo na estrutura e na maneira de acessar o evento.
— Fizemos a urbanização naquela área, que era uma lavoura de arroz até então, e praticamente construímos uma nova feira com perfil de negócios dentro do parque — salienta Claudio Bier, presidente do Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers).
Atualmente, a feira é utilizada pela indústria para apresentar lançamentos ao mercado e mostrar novas tecnologias aos produtores. Em 2019, movimentou R$ 2,5 bilhões em negócios. O faturamento é um dos maiores do setor em feiras, ao lado da Expodireto, em Não-Me-Toque, e da Agrishow, em Ribeirão Preto (SP).
Os presidentes na Expointer
Dos militares na ditadura aos eleitos na democracia, presidentes do Brasil sempre foram figuras carimbadas nas aberturas da Expointer. A participação na feira é vista como uma maneira de estreitar laços com o setor primário e serviu como palanque para atrair votantes em anos de eleição.
Ao todo, cinco presidentes visitaram o parque durante seus mandatos. Durante o regime militar, Ernesto Geisel veio a Esteio quatro vezes (1974, 1976, 1977 e 1978), enquanto João Figueiredo participou das feiras em 1980 e 1982.
Em 1985, ano que marcou a redemocratização do Brasil, José Sarney participou da Expointer após assumir a Presidência. Os presidentes seguintes, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, ignoraram convites do Estado e não participaram do evento durante os períodos que permaneceram à frente do país. FHC esteve no evento em 1994, mas na condição de candidato.
A retomada da participação dos presidentes veio em 2003, com Luiz Inácio Lula da Silva, que voltaria em 2010 ao parque. Sucessora de Lula, Dilma Rousseff marcou presença em 2011 e 2014, quando buscava a reeleição.
Dilma foi a última presidente a vir à exposição. Michel Temer e Jair Bolsonaro não participaram da Expointer após assumirem a Presidência. O atual presidente, no entanto, percorreu o parque em 2018 na condição de candidato.