Símbolo do Rio Grande do Sul e palco de uma das maiores feiras do agronegócio na América Latina, o Parque Estadual de Exposições Assis Brasil, em Esteio, completa 50 anos neste sábado. Inaugurada em 29 de agosto de 1970 para abrigar a Exposição Estadual de Animais até então organizada no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, e que, posteriormente, levou à criação da Expointer, a estrutura é testemunha da evolução da agropecuária gaúcha nas últimas cinco décadas.
A migração da feira começou a ser cogitada por um grupo de criadores gaúchos em 1967, após participarem de uma exposição na Inglaterra e verem a necessidade de o evento na Capital se modernizar. A ideia foi abraçada pelo secretário estadual da Agricultura na época, Luciano Machado, que nomeou uma comissão em busca do local ideal para receber a estrutura. Os requisitos eram que o ponto tivesse pelo menos 50 hectares e fosse na Região Metropolitana. Desta maneira, chegou-se à área em Esteio, uma fazenda pertencente à família Kroeff.
Em 1969, o governo do Estado e o proprietário Fernando Kroeff, patrono do Grêmio, chegaram a um acordo para a venda de 64 hectares. Assim, a estreia da exposição no novo local, em 1970, foi articulada a toque de caixa. E ficou marcada por polêmicas e adversidades.
Semanas antes da inauguração, um ciclone derrubou um dos pavilhões. O excesso de barro por todos os lados também desafiava os frequentadores, lembra Francisco Schardong, então estudante de Agronomia e hoje presidente da comissão de feiras e eventos da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
— Os criadores reclamaram bastante da mudança, achavam que o local era muito longe. Era uma dificuldade para se chegar lá. Com o passar do tempo, a decisão de ir para Esteio se mostrou acertada. As feiras durante esses 50 anos sempre foram a fotografia mais fiel do agronegócio gaúcho — destaca Schardong.
Feita a mudança, novo patamar foi atingido em 1972, com a formatação da primeira Exposição Internacional de Animais (Expointer). A internacionalização da feira foi conduzida já na gestão de Edgar Írio Simm na Secretaria da Agricultura. Economista com parte da formação realizada nos Estados Unidos, Simm teve o auxílio do Itamaraty e durante meses manteve contatos com embaixadores de dezenas de países para articular a participação estrangeira.
— A repercussão e o interesse dos países foram muito bons, tanto que levou à necessidade de construção do pavilhão internacional. Ao todo, 13 países participaram da primeira Expointer — diz Carlos Simm, filho de Edgar.
Apesar das transformações, o novo parque manteve o nome de Menino Deus após a inauguração. Isso só mudaria em 1977, quando o Estado optou por nomeá-lo de Assis Brasil, em homenagem ao político, dirigente da Farsul e produtor gaúcho responsável por trazer as raças de gado jersey e devon ao Brasil.
Naquele tempo, a Expointer era realizada a cada dois anos, de maneira intercalada com a exposição estadual. A situação permaneceu até 1984, quando a feira internacional incorporou todas as atividades e passou a ser anual.
Os desafios da estrutura
Em 1998, o governo do Estado ampliou o tamanho do parque, com a aquisição de outras terras vinculadas à família Kroeff. Hoje, a estrutura conta com 141 hectares, incluindo 45,3 mil metros quadrados de pavilhões cobertos e 70 mil metros quadrados de área de exposição. A manutenção anual custa cerca de R$ 8 milhões, valor arrecadado basicamente com os ingressos vendidos na Expointer e o aluguel para eventos.
Na avaliação do subsecretário do parque, José Arthur Martins, a estrutura chega aos 50 anos longe de estar ultrapassada, ainda que careça de intervenções pontuais. Martins cita reformas em pavilhões e no estacionamento como algumas das necessidades para os próximos anos.
— O parque é um cinquentão. Algumas estruturas estão antiquadas, mas o Estado passa por um momento de crise financeira e sabemos que existem outras prioridades — aponta, complementando que o Rio Grande do Sul se consolidou como referência em genética animal ao longo das cinco décadas da estrutura.
Outro desafio é o maior aproveitamento do parque. Em 2019, cerca de 75 eventos foram realizados no local. No entanto, pelo tamanho da estrutura, o secretário da Agricultura, Covatti Filho, reconhece que a utilização poderia ser melhor explorada:
— Nosso principal foco é dar mais uso ao parque. Estávamos alinhando com entidades setoriais e o meio tradicionalista para que o parque seja mais utilizado em eventos e feiras, mas pena que veio a pandemia.
Covatti Filho ressalta que a estrutura consegue se manter com recursos próprios, mas não fecha as portas a parcerias público-privadas para a realização de empreendimentos no local. Nas últimas décadas, diferentes possibilidades, como a construção de hotel e shopping, foram cogitadas, mas não avançaram.
A escolha da área
Desde que a comissão montada pela Secretaria da Agricultura passou a avaliar áreas na Região Metropolitana no final dos anos 1960, não houve dúvidas de que a melhor opção seria a da Fazenda Kroeff, em Esteio.
No livro Casa Branca – a sede do governo gaúcho na Expointer, de 2010, o historiador Eugenio Lagemann relata que não haviam áreas disponíveis para o projeto em Porto Alegre. Ao mesmo tempo, terrenos em Guaíba e Cachoeirinha foram descartados pela localização e infraestrutura deficitária. Outra opção seria a Fazenda da Brigadeira, em Canoas, mas a área já tinha sido negociada para a instalação da Refinaria Alberto Pasqualini.
Desta maneira, em 1969, o governo decidiu por colocar o parque em Esteio, na fazenda construída por Oswaldo Kroeff na década de 1930. A avaliação era de que o local tinha as condições necessárias para receber um parque de exposições moderno e poderia ser facilmente acessado por quem viesse tanto do sul como do norte do Estado. Na época, a propriedade mantinha o cultivo de arroz e a criação de gado de corte e era comandada por Fernando Kroeff, filho do fundador. Da área total, de aproximadamente mil hectares, 64 foram negociados.
— Meu pai falava que a área vendida valia o dobro do que o governo pagou, mas foi uma desapropriação tranquila, sem briga. Ele concordou, achou que seria bom para o Estado e facilitou o processo — recorda o ex-presidente do Grêmio Duda Kroeff, filho de Fernando.
A Fazenda Kroeff fez parte da infância de Duda. Ele foi batizado na Casa Branca, sede da propriedade que ainda hoje permanece no parque Assis Brasil, sendo utilizada como sede do governo gaúcho na Expointer. Toda vez que passa pelo parque, Duda diz se recordar das andanças em meio ao gado e dos jogos de futebol na vasta área.
Esferas que simbolizam a Expointer foram presente alemão
As três grandes esferas com as cores do Rio Grande do Sul, que viraram o símbolo da Expointer, estão presentes no Parque de Exposições Assis Brasil desde 1974. Elas foram trazidas da então Alemanha Ocidental pela delegação que participou da feira naquele ano e, originalmente, eram pintadas em alusão à bandeira do país europeu — vermelho, amarelo e preto.
Ocas por dentro, as estruturas são compostas de fibra de vidro. Elas vieram desmontadas e os alemães pregaram uma a uma as peças dos globos para utilizá-los como estandes. Evitando o trabalho de desmontar e ter de levar novamente para a Europa as partes separadas, a Alemanha deu os círculos ao Rio Grande do Sul como um presente pelo sesquicentenário (150 anos) da imigração alemã ao Estado.
Posteriormente, o governo gaúcho apenas trocou o preto pelo verde em uma das esferas, deixando o trio com a forma vista no parque até os dias de hoje.