Com o surgimento dos primeiros casos de coronavírus entre trabalhadores de frigoríficos no Rio Grande do Sul, em março, as empresas passaram a reforçar medidas de segurança para evitar a expansão do contágio. Além do afastamento e acompanhamento dos colaboradores infectados e seus entornos, as indústrias ampliaram a presença de profissionais da área da saúde nas unidades e, em algumas plantas, montaram estruturas que se assemelham às de um hospital de campanha.
Na JBS de Passo Fundo, a rotina de trabalho mudou profundamente. Local onde foram identificados os primeiros casos no Estado de trabalhadores do setor com coronavírus, a unidade de abate de aves chegou a ficar interditada por aproximadamente 20 dias. A empresa conseguiu retomar as atividades amparada em uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Desde então, novos protocolos foram adotados e o monitoramento dos funcionários intensificado.
— Essa pandemia é um fato novo, ela não chegou com um manual de instrução. Os protocolos são organismos vivos. A cada dia vamos aprendendo para tomar as melhores decisões — argumenta José Antônio Ribas Junior, diretor-executivo da JBS.
O dirigente reconhece que algumas coisas poderiam ter sido "melhor feitas" anteriormente. Por isso, na retomada, a JBS chegou a colocar entre 10 a 15 profissionais de saúde, entre enfermeiros e médicos, em Passo Fundo e nas demais plantas instaladas no Estado.
Todos os funcionários têm a temperatura medida ao começarem a jornada. A empresa também colocou funcionários para circularem na fábrica apenas para monitorar se há cumprimento das regras de distanciamento e o uso adequado dos equipamentos de proteção. Em determinados setores, foram instaladas divisórias de acrílico para separar os trabalhadores.
Em Lajeado, a BRF passou a realizar a testagem massiva dos funcionários. Todos os que apresentaram resultado positivo no teste sorológico foram afastados do ambiente de trabalho e submetidos a uma nova avaliação com o teste RT-PCR, de maior efetividade. Segundo a empresa, não passam de 18% o total de casos positivos identificados na prova rápida que foram ratificados no exame mais detalhado.
Além disso, também foram adotadas medidas como reforço no uso de equipamentos de proteção individual (EPI), distanciamento entre funcionários, medição de temperatura, reforço na higienização dos ambientes da planta e limite de 50% da capacidade nos veículos fretados para realizar o transporte dos funcionários.
"A empresa entende que estamos todos atravessando um momento sem precedentes e extremamente desafiador, mas ressalta que está segura das ações que vem adotando e ampliando desde antes mesmo de ter sido declarada a pandemia. A BRF segue acompanhando as mudanças de cenário no Brasil e não medirá esforços para garantir a efetividade de suas ações, implementando novas medidas sempre que necessário", afirma a empresa a GaúchaZH, por meio da assessoria de imprensa.
Desta maneira, a atividade vem sendo gradativamente retomada no frigorífico. Desde segunda-feira (25), não há mais restrição de operação máxima com 50% dos colaboradores. Com isso, permanecem afastados apenas quem faz parte do grupo de risco, os funcionários com covid-19 e os com suspeita de contaminação.
O diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (SIPS), Rogério Kerber, afirma que o setor está com "nível elevadíssimo" de atenção para evitar novos casos nos abatedouros.
— Existe uma mobilização diária, de capacitação e orientação intensiva em relação aos procedimentos a serem adotados — classifica.
Neste sentido, Kerber salienta que as empresas têm procurado orientar os funcionários a manterem cuidados mesmo fora do horário de trabalho.
O tamanho do setor
- O RS tem atualmente 403 frigoríficos ativos, segundo a Secretaria da Agricultura. Há 295 plantas de abate de bovinos, 227 de suínos e 56 de aves. Uma empresa pode abater mais de uma espécie na mesma unidade.
- As indústrias ligadas à produção de carne geram em torno de 64 mil empregos diretos no Estado, de acordo com as entidades que representam os setores de aves, bovinos e suínos. São cerca de 40 mil vagas em frigoríficos de aves, 16 mil em plantas de suínos e 8 mil em abatedouros de bovinos.
- Por ano, o Estado abate em torno de 820 milhões de aves, 8,5 milhões de suínos e 1,8 milhão de bois. A produção gaúcha anual chega a 1,6 milhão de toneladas de carne de aves, 795 mil toneladas de carne suína e 435 mil toneladas de carne bovina.
- No setor de aves, em torno de 35% da produção é exportada. Nos suínos, as vendas internacionais representam cerca de 25% do mercado, enquanto nos bovinos chegam a 10% do total produzido.