As notícias que chegam dos Estados Unidos mostram a face de um problema que o Brasil quer evitar: o abate de milhões de animais em razão do fechamento de frigoríficos. A medida é o episódio mais recente dos registros de casos da covid-19 entre trabalhadores do setor. Com uma atitude, em um primeiro momento, um tanto quanto displicente em relação à chegada do vírus, autoridades americanas demoraram a entender – e a se preparar – para a gravidade da pandemia. Esse lapso fez a doença avançar – são de 1,5 milhão de casos e mais de 90 mil mortes.
Um dos pontos de atenção veio justamente de unidades de abate, com grandes empresas do setor, como JBS, Tyson Foods e Smithfield Foods tendo de paralisar as operações em algum momento. Pelo menos 30 plantas foram fechadas. A consequência seguinte foi a redução na produção, com impacto sobre o abastecimento de produtos à base de proteína animal. Os danos fizeram o presidente Donald Trump assinar ordem executiva para manter as unidades abertas. Relatório do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA mostra que 115 plantas de processamento de carnes tiveram casos de Covid-19 entre funcionários, em 19 de 50 Estados americanos.
O Brasil tem empenhado esforços para construir uma realidade diferente, tanto no avanço da doença quanto no impacto ao fornecimento de alimentos. Consideradas como atividade essencial, as empresas tiveram as operações mantidas. Os casos que surgiram entre trabalhadores ligaram o sinal de alerta e levaram ao reforço de ações para reduzir o risco a quem está na linha de frente.
A preocupação de quem fiscaliza e de quem produz tem de ser a mesma: encontrar o ponto de equilíbrio. Porque os cuidados com a saúde são vitais. E a preocupação com abastecimento igualmente legítima e necessária. Episódios recentes mostram que o tema ainda provoca divergências.
Houve, no entanto, evolução do diálogo e na busca de soluções, avalia Priscila Schvarcz, coordenadora estadual do projeto de fiscalização de frigoríficos do Ministério Público do Trabalho. Diretor-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura, José Eduardo dos Santos assegura que os frigoríficos não vão baixar a guarda com a retomada em unidades fechadas. E ressalta que a responsabilidade é compartilhada, dentro e fora das empresas. Quem ganha com o entendimento são todos, do produtor ao consumidor.
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