Em reunião que transcorreu por mais de uma hora na tarde desta terça-feira (9), o secretário da Agricultura, Covatti Filho, apresentou ao promotor Alexandre Saltz, do grupo especializado em meio ambiente do Ministério Público, sete propostas para minimizar a deriva do agrotóxico 2,4-D, aplicado antes do plantio da soja para eliminar as ervas daninhas.
As medidas incluem treinamentos de produtores para a correta pulverização, sistema de alerta de deriva, regulamentação de normas de aplicação terrestre do químico e criação do fundo de indenização, entre outras. Elas são, no entendimento do governo estadual, alternativa para evitar a suspensão por via judicial do uso e da comercialização do herbicida no Rio Grande do Sul, opção que é considerada pelo MP, responsável por apurar, em um inquérito civil que já soma mais de 700 páginas, os danos causados pelo agroquímico.
Na última safra, a deriva do 2,4-D, cujos resíduos são carregados pelo vento até plantações vizinhas, causou perdas milionárias em lavouras de uvas viníferas, oliveiras e maçãs - parte dos vegetais atrofiou e morreu ao ser alcançado pelo herbicida. Somente nas videiras, o prejuízo chegou a R$ 94 milhões, segundo estimativa do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).
A partir do encontro, duas novas rodadas de negociações foram agendadas. No dia 17 de abril, ocorrerá a primeira reunião do grupo de trabalho criado em fevereiro pela Agricultura para discutir os danos causados pelo 2,4-D. O MP se agregará aos debates e, conforme Covatti, representantes de setores prejudicados, preteridos da composição inicial do grupo, estão sendo chamados a participar.
Depois, no dia 23, haverá audiência vinculada ao inquérito civil conduzido pelo MP. Neste encontro, o Estado se comprometeu a detalhar as medidas mitigadoras de danos aos produtores rurais atingidos.
O promotor Saltz, que no inquérito registrou que se reuniria com Covatti Filho para requerer a suspensão do 2,4-D no Estado, saiu do encontro com análise conciliadora. Ele afirmou que "todas as opções seguem na mesa", mas ponderou que a mera retirada do químico do mercado poderá não solucionar o problema, à medida que outros herbicidas seriam usados como substitutos.
Desta forma, demonstrou disposição para debater medidas de redução de impacto e controle. Ele não estimou um prazo-limite para que o MP defina se levará adiante ou abandonará a hipótese de tentar retirar o agrotóxico do mercado gaúcho. O uso do herbicida nos campos de soja se intensifica em agosto, durante etapa preparatória para o plantio do grão.