Os efeitos do herbicida 2,4-D na saúde de produtores e moradores das imediações de lavouras geram polêmica no campo e na cidade. O produto é o terceiro mais utilizado por produtores para o plantio direto no Estado. Porém, casos como o do cinamomo contaminado pelo agrotóxico no centro de Livramento, registrados longe das plantações, comprovam que a deriva da pulverização também leva danos para as cidades.
Em 2018, a Secretaria da Saúde recebeu 830 notificações de intoxicações agudas por agrotóxicos, aumento de 15% sobre os 719 registros do ano anterior, detalha a coordenadora da Vigilância de Populações Expostas e Solos Contaminados do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Sílvia Medeiros Thaler.
– Essas notificações ainda estão abaixo do esperado frente à realidade agrícola do Estado. Cerca de 40% dos municípios não tem nenhuma notificação. Esses, chamados de silenciosos, nos preocupam muito – afirma, ressaltando que mesmo com essas exceções os registros vêm aumentando.
Podendo ser absorvido pela pele, olhos e inalado, o herbicida causa náuseas, vômito, diarreia, dores musculares e tonturas. Na ingestão, pode gerar hemorragia, alterações e lesões no fígado e nos pulmões, e chegar até a casos de convulsão e coma. Há também, efeitos causados por exposição crônica, que ocorre por contato direto durante muito tempo – meses ou anos – ao agrotóxico. Nesse caso, as pessoas apresentam, além de náuseas recorrentes, diarreia, alergias, demonstram, fraqueza muscular e dificuldades de coordenação e movimentação.
– A maior parte dos casos são de trabalhadores rurais. Além desses, as populações que nos preocupam são aqueles centros urbanos imersos na lavoura, onde não há divisão entre a lavoura e a casa.
A coordenadora explica que, no caso da deriva, ainda faltam dados que comprovem o alcance dos efeitos do 2,4-D. O uso do herbicida é autorizado, mas o produto é considerado extremamente tóxico para a saúde pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No Estado, o governo montou um grupo de trabalho específico para discutir sobre o agrotóxico.
Colaborou: Leticia Szczesny