A mais promissora região produtora de uvas viníferas no Estado, a Campanha poderá amargar perda de até 40% na safra atual, segundo estimativa do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). Embora as projeções ainda sejam preliminares, os danos visuais constatados nos parreirais deixam margem para pouco otimismo.
– As uvas foram muito afetadas pela deriva. É muito triste de ver – lamenta Clori Peruzzo, presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha, que congrega 17 vinícolas.
As perdas na produção de uvas na Campanha nesta safra poderão passar de R$ 216 milhões levando em conta a redução de 4,8 milhões de garrafas de vinhos e espumantes vendidos ao preço médio de R$ 45, segundo cálculos do Ibravin.
Na Guatambu Estância do Vinho, em Dom Pedrito, premiada internacionalmente, o sentimento é de frustração na terceira safra com problemas de contaminação nos parreirais – confirmados neste ano em laudos da Secretaria da Agricultura. A quebra está estimada em 60% da produção de 20,5 hectares – mesmo percentual registrado na safra passada. Antes dos problemas com deriva, a propriedade colhia 150 mil quilos de uva. Agora, não passa de 60 mil quilos. O prejuízo acumulado chega a R$ 1 milhão.
– O problema não é de agora. Alertamos as entidades rurais ainda em 2015. Depois, tentamos fazer um trabalho de conscientização nas revendas de químicos. Esgotamos todas as instâncias diplomáticas – lamenta o produtor Valter José Pötter, proprietário da Guatambu.
Neste ano, antes do início do plantio da soja, quando o herbicida costuma ser aplicado, Pötter, que também cultiva o grão e usa produtos alternativos ao 2,4-D, chegou a mandar cartas registradas em cartório pedindo a colaboração dos 12 vizinhos que fazem limite com sua propriedade na localidade de Leões, no interior de Dom Pedrito.
– E tenho certeza que a deriva não foi causada por eles (vizinhos). A questão é que esse produto vem de quilômetros de distância – afirma Pötter, que suspendeu o investimento que faria em um hotel junto à vinícola, às margens da BR-293, entre Dom Pedrito e Santana do Livramento.
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Resíduo da aplicação do herbicida 2,4-D é apontado como causador de perdas em uvas, oliveiras e maçãs. Zero Hora visitou sete propriedades que receberam as confirmações da deriva em Bagé, Candiota, Dom Pedrito, Santana do Livramento, Jaguari e Monte Alegre dos Campos.