Recebemos com alívio a notícia de que o futuro governo voltou atrás na ideia de fundir os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. Em diferentes momentos, vimos o presidente eleito mencionar o desejo de que o produtor rural pudesse trabalhar sem temer multas e outras sanções relacionadas a questões ambientais. Nós, auditores fiscais federais agropecuários, também queremos. Nossa vontade é de que todos atuem em suas áreas respeitando as leis construídas a muitas mãos, como o Código Florestal, e adequados às normas relacionadas ao uso de agroquímicos, por exemplo.
Unir as duas pastas poderia ainda comprometer as relações do país com seus importadores
SORAYA ELIAS MARREDO
Diretora de Comunicação Social e Relações Públicas da Delegacia Sindical do Anffa no RS
Entendemos, entretanto, que os aspectos ambientais precisam ser analisados à luz de conhecimentos específicos. A revisão e a modernização de diferentes órgãos públicos é muitíssimo bem-vinda. Mas nunca sem antes passar por um planejamento estratégico cuidadoso, levando em conta a realidade e as particularidades de cada um. Sabemos, em nosso dia a dia de atividades ligadas ao agronegócio brasileiro e mundial, que há muito o que ser feito pelo poder público para permitir uma produção rentável e competitiva. O bom de termos um Ministério da Agricultura separado do Meio Ambiente é que podemos ponderar tecnicamente sobre os impactos de um na existência do outro. A aproximação é saudável, com os técnicos do meio ambiente conhecendo de perto a atuação dos auditores fiscais federais agropecuários, e sua relação com o campo, e vice-versa.
Unir as duas pastas poderia ainda comprometer as relações do país com seus importadores. As exigências ambientais vêm se tornando tão importantes quanto as fitossanitárias, quando uma nação decide incluir outra entre seus fornecedores. Diante do tamanho das florestas, reservas hídricas e biodiversidade brasileiras, o mundo olha com muita atenção ao que o país faz (e deixa de fazer) neste quesito.
Do ponto de vista prático, a união das pastas poderia provocar a lentidão maior dos processos e a desaceleração na tomada de decisões. Ainda há que se pensar que um ambientalista no comando de um ministério conjunto poderia trazer retrocessos ao agronegócio, bem como uma liderança agropecuária poderia representar uma volta indesejada a tempos sem tantos cuidados para com o meio ambiente. E, embora as duas áreas tenham muito em comum – solo, população animal, água – existem tantos aspectos que estão relacionados a outros setores como o agroindustrial e de mineração, por exemplo.
Soraya Elias Marredo é diretora de Comunicação Social e Relações Públicas da Delegacia Sindical do Anffa no RS