Produzidos sem uso de terra e em ambientes protegidos, os alimentos hidropônicos germinam com ajuda dos consumidores que compram hortaliças e frutas com os olhos. O visual atrativo desses produtos, do aspecto à limpeza, fez esse mercado crescer na última década – puxado também pela melhora de renda da população e pela busca por uma comida mais saudável. Para os agricultores, a alternativa de produção representa rendimento maior e menos desgaste de mão de obra, já que o trabalho manual é feito em bancadas elevadas e não no nível na terra.
– É um sistema mais custoso no momento da implantação, dado o investimento tecnológico e a estrutura das casas de vegetação. Mas depois o retorno compensa, com rendimento superior e garantia de produção o ano todo – destaca Ricardo Rotta, presidente da Associação Brasileira de Hidroponia, criada em 2009.
A produtividade maior é decorrente do período de produção de 10% a 15% mais curto, permitindo de 15 a 20 ciclos por ano, dependendo da cultura, além da possibilidade de ganho maior por metro quadrado e da menor incidência de pragas e doenças. O rendimento superior, em média 30%, é decorrente também da eficiência no uso da água e de nutrientes – dosados em quantidades precisas no sistema hidráulico, sem desperdício.
– A economia de água na hidroponia pode chegar até a 95% em relação ao cultivo na terra, com irrigação por aspersão – compara Ítalo Moraes Rocha Guedes, pesquisador da Embrapa Hortaliças, em Brasília (DF).
Alimento hidropônico não é sinônimo de orgânico
Não há estimativas oficiais no país sobre o cultivo de hidropônicos. A Embrapa calcula, com informações de mercado, que o sistema represente de 1% a 5% de toda a produção de hortaliças no país. A participação só não é maior, diz Guedes, por conta da desinformação de parte dos consumidores, que por vezes não percebem a diferença nos produtos ou os confundem com orgânicos.
– Hidropônico não é sinônimo de orgânico. E, pelas técnicas limpas e controladas, pode ser mais seguro do que orgânico, informação pouco conhecida – explica o pesquisador, citando a tendência dos cultivos aumentarem próximos às áreas urbanas, facilitando a logística de entrega de produtos frescos.
Embora não seja uma técnica nova, com as primeiras produções na Europa na década de 1980 e no Brasil nos anos 1990, o cultivo só ganhou escala no país nos últimos 10 anos – quando a população, com maior poder aquisitivo, passou a buscar uma alimentação mais saudável, incluindo frutas e hortaliças nas refeições diárias.
Foi mais ou menos nesse período que a Acqua Hidroponia, em Viamão, quadruplicou sua produção. Hoje, são dois hectares em 26 estufas de hortaliças e temperos hidropônicos.
O negócio, que começou em 2005 com dois funcionários, tem atualmente 26 colaboradores. Além de redes de supermercados e mercados de bairros, os produtos são entregues diariamente em restaurantes de Porto Alegre.
– Nossos clientes priorizam muito o aspecto visual e a qualidade do produto. Toda a produção é precisamente controlada – conta Lidiane Silva, 39 anos, proprietária da Acqua Hidroponia, fundada pelo marido Armando Martins dos Santos, que morreu há pouco mais de dois anos.
Ao lado da irmã Mauricéia Maehler, 41 anos, Lidiane deu continuidade ao negócio construído pelo marido, agrônomo e melhorista vegetal, de produzir alimentos hidropônicos seguros e saudáveis.
– O sonho dele, de ver isso aqui prosperando sempre, me deu forças para seguir em frente – conta Lidiane, que no último domingo abriu a propriedade para clientes e consumidores conhecerem e colherem a produção.
Com tomates mais doces, novos negócios
Produtores de hortaliças hidropônicas há 14 anos, o casal de agrônomos Rosane e Igor Tonin viu no tomate uma oportunidade de dobrar a área de estufas, de um hectare para dois hectares. Há quatro anos, passaram a produzir em Passo Fundo, no norte do Estado, tomates grappes – conhecidos pelo sabor mais doce devido ao teor elevado de açúcar.
– Na época, a produção desse tomate, muito usado em saladas, era praticamente toda em São Paulo – lembra Tonin, 39 anos.
Hoje, os produtos Nature Tomates são entregues embalados em supermercados do Estado. Nos contratos firmados com o varejo, a empresa garante a distribuição nos 12 meses do ano.
– No sistema hidropônico, coberto em estufas, consigo ter previsibilidade, além de controlar todos os processos – conta o produtor.
A experiência frustrada no passado, quando investiu em produção de hortaliças a campo aberto, o fez migrar para o sistema hidropônico.
– Tinha muito problema com doenças de solo e excesso de chuva, sem contar que a mão de obra era muito difícil – lembra Tonin.
O que hoje é um nicho de mercado deverá se tornar tendência pelo padrão de qualidade exigido pelo consumidor e também pela ergonomia na mão de obra, indica Luis Bohn, assistente técnico regional da Emater em fruticultura e olericultura:
– Muitos produtores tradicionais estão sendo levados para a hidroponia por questões de mercado e também para melhorar as condições do trabalhador.
Apesar das vantagens do sistema, Bohn alerta para os riscos, como a dependência da energia elétrica para manter o sistema hidráulico funcionando e da pressão dos grandes varejistas por preços.
– O método exige investimento alto diante de um valor final com margens apertadas no varejo, que exige escala e compromisso de entrega – completa o assistente técnico regional, acrescentando que a hidroponia vem ganhando espaço no Estado nos cultivos de hortaliças, tomates, morangos e pimentões.
Como funciona o cultivo
A primeira etapa da produção de hortaliças é a preparação das mudas, com sementes e substratos em pequenas placas.
A mistura permanece em berçários cobertos por cerca de 10 dias, até o início da germinação.
Do berçário as mudas são transplantadas para as bancadas hidropônicas (também protegidas por estufas). Elevadas na altura da cintura, facilitam a mão de obra do trabalhador, que não precisa ficar abaixado na terra.
As plantas passam a se desenvolver com as raízes na água, até serem colhidas em mais 15 dias.
Na estação de solução nutritiva, são colocados os fertilizantes solúveis em caixas d´água. O sistema hidráulico controla o bombeamento, a temperatura e o PH da água, assim como os nutrientes.